sábado, 30 de junho de 2012

Relatório Ensino e Aprendizagem


Relatório Final 

Tema: Ensino e Aprendizagem


Erick da Silva Oliveira       RA: 102123
Fabrício Eduardo Pessagno Miranda       RA: 104873
Franklin Daniel Braiani       RA: 122549
João Paulo Morais De Campos       RA: 119631
José Renato Pereira       RA: 121048
Márcia Santana Carvalho       RA: 122134


            O grupo é formado apenas por alunos do curso 029 (Licenciatura em Matemática) e o tema escolhido foi Ensino e Aprendizagem. Resolvemos tratar desse tema justamente para compreender como esta sendo realizado o ensino de Matemática atualmente, o nível de aprendizado dos alunos e principalmente porque eles têm tanto receio dessa disciplina.
      Nas discussões de planejamento do grupo quanto ao que seria feito em relação ao trabalho proposto nesta disciplina, pensamos em algumas possibilidades: primeiro em visitar dois tipos de escolas e duas séries, as escolas seriam uma estadual e uma particular ou uma estadual e uma municipal, mas por fim optamos apenas por visitar uma escola, e uma oitava série, devido ao curto tempo disponível durante a semana. Nosso principal objetivo nesse trabalho é tratar da questão do ensino e da aprendizagem retratado num ambiente escolar do ensino fundamental de uma escola pública estadual. Para isso definimos algumas visitas na instituição escolhida, que fica localizada na cidade de Sumaré região metropolitana de Campinas, é uma escola da periferia da cidade, portanto, problemas sociais, econômicos e culturais, estão mais latentes, pois refletem a realidade da maior parte da população.E como dois membros do grupo já lecionam, ficou decidido, portanto que iríamos visitar a escola e uma das salas de aulas para a qual o João leciona.
            Foram realizadas algumas visitas, na qual analisamos a sala de aula, o comportamento dos alunos e do professor e o empenho dos alunos para a resolução de problemas durante a aula. Posteriormente foi feita a entrega dos questionários aos alunos na sala em que visitamos, sem a presença do professor, e o questionário para os professores foi entregue nas escolas em que os dois membros do grupo lecionam, pois foi realizado apenas em professores que lecionam a disciplina de Matemática. 
            Cada membro do grupo ficou responsável por realizar uma tarefa, e tudo foi decidido em conjunto:

·         Erick – Elaborar os questionários que foram entregues para alunos e professores, analisar cada um e separar para mostrar ao grupo.
Questionário dos Alunos: Foram usados na elaboração das perguntas os conceitos de afetividade e mediação vistos na Teoria de Vygotsky. Alguns conceitos são de modo a questionar a relação dos alunos com seus professores, para que eles evidenciassem se essa relação tem alguma influencia no aprendizado da disciplina, e se eles dão importância ao aprendizado ou não.
Questionário dos Professores: Na elaboração foi necessária uma visão um pouco diferente, pois deveria constar nas perguntas a importância que eles dão em relação ao aprendizado do aluno e se eles se comprometem com o aprendizado de seus alunos. E, além disso, saber qual importância tem aos alunos para o qual eles já lecionaram.

·         Fabrício – Contextualizar o que Vygotsky prega com relação a Ensino e Aprendizagem.
O primeiro aspecto de interesse a ser ressaltado sobre as conclusões de Vygotsky é a de que o meio, a cultura e os aspectos históricos da época são fundamentais para o processo de desenvolvimento do ser humano. Ou seja, a relação do indivíduo com tudo que o cerca é essencial para que ocorra este processo. Com isso em mente, é compreensível a importância dada pelo Vygotsky à linguagem. Para ele, a linguagem tem um papel essencial no processo de ensino-aprendizagem, pois a mesma carrega os sentidos dos signos e símbolos presentes na cultura, caracterizando um sistema simbólico que o individuo interioriza, permitindo ao indivíduo agregar um valor e um sentido a informação que está sendo repassada. Porém, só o acúmulo de informação não é sinônimo de aprendizagem. Para Vygotsky, aprendizagem é um processo interpessoal e ativo, que ocorre antes do processo de desenvolvimento. De fato, apenas com uma organização dessas informações pelo processo de aprendizagem, associando ou esquematizando essas informações, levam o individuo ao desenvolvimento mental, e, assim iniciando o processo de desenvolvimento.
Desta forma, ensino e aprendizagem são vistos como processos que não podem ser desassociados, mas sim dependentes um do outro, em que um processo só é possível com a intervenção/interação do outro, caracterizando um novo processo, ao qual conhecemos como ensino-aprendizagem. Segundo Vygotsky, este último inclui o mediador, o aluno, e a relação estabelecida entre os dois. Ou seja, é um processo que depende de quem ensina e daquele que busca aprender e da relação construída sobre essa troca de informações. E é nesta relação presente no processo de ensino-aprendizagem que valoriza a importância da linguagem e também da motivação daquele que busca aprender algo. Os aspectos emocionais não são desprovidos de importância segundo Vygotsky, que julga a motivação como um importante elemento neste processo, assim como a capacidade do mediador em desenvolver este elemento no outro individuo.

·         Franklin – Montar a apresentação de slides, filmar e modificar os vídeos utilizados na apresentação e apresentar a introdução.
‘           O tema do nosso trabalho é embasado na teoria de Vygotsky, pois o autor trata das questões sociais e culturais, como sendo um dos pilares para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem, além da inclusão social, assim como a importância da mediação nesse processo, e todo seu viés ideológico e político está latente na teoria desse autor.
È pertinente, portanto, destacar alguns aspectos relacionados ao modelo de sociedade em que vivemos, regido pelos mercados leva a perpetuação do modelo neoliberal, ou seja, de reprodução e manutenção dos paradigmas de divisão de classes, onde só ocorre o acúmulo e a concentração de riqueza. A distribuição de renda, sobretudo é muito desigual, os países ricos são dominadores e impõe o modelo a ser seguido, influenciam de maneira avassaladora os países pobres, cultural, social e economicamente, isso tem impacto direto na educação.

·         João – Encontrar a escola, conseguir liberação para a visita em sala de aula e montar a dinâmica realizada no final da apresentação, e explicar o vídeo da sala de aula.
Um ponto central da teoria com respeito ao ensino e a aprendizagem é o conceito de Zona de desenvolvimento proximal (ZDP), que afirma que a aprendizagem acontece no intervalo entre o conhecimento real e o conhecimento potencial.
     Seria neste campo que a educação atuaria, estimulando a aquisição do potencial, partindo do conhecimento da ZDP do aprendiz, no caso em questão, a aluna possui um conhecimento real do sistema de numeração, identificação dos números e sua classificação, na ZDP, o professor fará a mediação de que existe uma relação dos números do conteúdo estudado (Equações do 2º grau) assim a aluna irá adquirir esse conhecimento e ele se tornará um conhecimento real.

·         José Renato – Pesquisar e montar a introdução da apresentação e dar apoio aos demais integrantes do grupo.
A educação se coloca de maneira subordinada ao Estado, refém de um modelo, um padrão de ensino, que é globalizado, que se coloca como o ideal para toda e qualquer sociedade no sentido de se manter as divisões de classes, de impedir a ascensão dos menos favorecidos. O direito a escola é tratado pelos órgãos mundiais, como Organização das Nações Unidas (ONU), como sendo um dever do Estado para com a sociedade, ou seja, o mais importante é melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) a quantidade é mais importante que a qualidade, o único objetivo é colocar as pessoas nas escolas mesmo que não aprendam nada.
Quanto á esse cenário de total adversidade o professor se vê como apenas um reprodutor da ideologia do Estado com suas ações de boa vontade, esperança, sendo obstruídas de diversas formas, tanto pela sociedade como pelo governo, o seu papel passa a ser de transmissor de conhecimento, não mais alguém que promove o conhecimento, a mediação desse processo, seu dever é fazer os alunos reproduzirem o que ele faz, a tecnicidade é mais importante em detrimento ao conhecimento novo, a produção e a formação de opinião, a própria concepção de mundo.
A minimização do papel do professor é conseqüência da sociedade em que vivemos, pois ele deve ser competente no sentido de obter resultados quantitativos, deve alcançar metas como se fosse um operário de uma linha de produção ou funcionário de uma empresa que visa apenas o lucro para a empresa que trabalha, e se vê explorado, sem perspectivas de almejar um futuro melhor, no caso do professor seria o Estado o patrão, que policia e determina a produção e o que o professor vai produzir, ou seja, a escola se faz um ambiente extremamente competitivo, desigual, limitador e dominada como se fosse uma empresa.

·         Márcia – Redigir o relatório final, entregar os questionários para os professores, apresentar o vídeo do Marcelo Tas e relacionar com Ensino e Aprendizagem.
            O conceito de ensino-aprendizagem não se refere somente à aprendizagem ou ao ensino, é um processo global que envolve alguém que aprende alguém que ensina, e a relação ensino-aprendizagem. E essa concepção de ensino-aprendizagem inclui dos aspectos relevantes:
- A relação de que alguém ensina.
Que não precisa ser necessariamente uma pessoa, mas também, objetos, eventos e o meio cultural onde a pessoa vive.
- E quando a aprendizagem é um resultado desejável e intencional.
Nesse caso a intervenção pedagógica é um mecanismo privilegiado. E a escola é o lugar onde o processo intencional de ensino-aprendizagem ocorre.
Embora Vygotsky enfatize o Papel da intervenção no desenvolvimento, seu objetivo é trabalhar com a importância do meio cultural e das relações entre indivíduos, na definição de um percurso do desenvolvimento da pessoa humana, e não propor uma pedagogia diretiva, autoritária.

Alguns depoimentos dos membros do grupo:

Erick:
Foi uma experiência interessante visitar e observar uma sala de aula fazia muito tempo que não entrava numa escola de ensino fundamental, pois faz um bom tempo que terminei o Ensino Médio. Vi que muita coisa mudou em relação aos estudantes, mas precisa mudar mais ainda também em relação atitude de professores.
As poucas conversas com os professores durante a visita mostraram que muita coisa precisa ser mudada na forma que alguns professores têm visão sobre Educação nos tempos atuais. Sobre as informações coletadas em todo o período da disciplina acho que foi de grande ajuda. Principalmente em relação a opinião de alunos sobre atitudes de um professor durante a aula. Pelo que vejo não é nada fácil lecionar nos dias atuais.
Fabrício:
A experiência não foi menos que surpreendente. As minhas recordações de uma sala de aula no ensino fundamental eram bem diferentes do que vimos durante a visita. Muito provavelmente por ter passado apenas os dois primeiros anos do ensino fundamental em uma escola pública, o que eu tinha em mente era um ambiente mais organizado, não exatamente de controle rígido, mas menos caótico. Recordo-me que nos meus tempos de escola, havia sim conversas entre alunos, momentos em que passávamos dos limites, mas os professores rapidamente conseguiam recompor o ambiente, sem necessariamente precisar usar de uma figura de autoridade absoluta com gritos e ameaças (em relação a notas).
            Já na sala em que visitamos o ambiente não poderia ser mais diferente. Os alunos mostravam pouco interesse quanto ao o que o professor tentava lecionar, é claro, havia algumas exceções, mas o espírito geral da turma era a de ignorar a aula. Por exemplo, o caminho entre as carteiras formavam um mini-labirinto já que cada um deixava a mesa na posição que facilitasse poderem se comunicar com os seus amigos, o que não seria nada demais se não fosse tão exagerado. Algumas garotas deixavam câmeras fotográficas e celulares sobre a mesa, não apenas com o intuito de guardarem os objetos, mas sim para ficar mostrando fotos umas para as outras, no entanto devo confessar que não vi nenhuma delas tirando fotos no momento. Além é claro do falatório incessante, em alguns momentos um aluno gritava para que o outro pudesse ouvir no lado oposto da sala. O principal detalhe é o fato de que tudo isso acontecia enquanto estávamos em sala, o que sugere que esses alunos realmente não se importavam com o que acontecia na sala, a não ser que isso atrapalhasse seja lá o que for que estiverem fazendo.
            Quanto ao professor, era visível o esforço para tentar ganhar um pouco da atenção da sala, sendo que em alguns momentos ele conseguia fazer com que a turma prestasse a atenção por alguns minutos, em especial quando pedia para que dissessem o resultado para uma questão que acabara de escrever na lousa. Mas a atenção vinha mesmo dos alunos que sentavam nas primeiras fileiras, talvez seja até por isso que estes se sentam nestes lugares, já que os colegas não respeitam a vontade destes em ouvir o professor.
            De qualquer forma, foi interessante notar como muitas vezes é a pessoa que senta ao seu lado que pode prejudicá-lo. Uma das alunas que sentava na última fileira se mostrara bastante interessada em entender o que o João estava passando, e com dificuldades em resolver os exercícios, se cobrava em voz alta mesmo, dando a impressão que em alguns momentos iria chorar por se sentir burra em não conseguir resolvê-los. Enquanto isso, duas alunas que se sentavam a frente dela não paravam de conversar e gritar, até mesmo com o professor, causando uma visível irritação na aluna. Porém, essa situação não a impediu de ir atrás do professor algumas vezes, procurando ajuda, chamando a nossa atenção, tanto que a filmamos enquanto o João a ajudava a entender a matéria, resultando no vídeo que passamos na apresentação.
            Por fim, os outros professores com quem conversamos na escola se mostravam desmotivados e cansados, como se cada aula fosse uma batalha contra os alunos. Um dos professores nos disse o quanto é difícil conseguir passar qualquer coisa para aqueles jovens, como eles ignoravam o professor ou desafiavam o professor, atitudes rebeldes comuns a essa faixa etária, porém pareciam um pouco mais exageradas neste caso.
            E assim concluímos a visita. Saí bastante decepcionado com a situação em sala, a falta de comunicação entre alunos e professores, até porque é possível que a postura dos alunos seja reflexo de problemas externos a escola, e a desmotivação dos professores dificultam a aproximação com os jovens. No entanto, ver a postura de alguns alunos que realmente se preocupavam com o que o professor tinha a dizer foi um alívio, nos mostrando que apesar do ambiente influenciar no indivíduo, alguns destes ainda buscam seguir um caminho diferente, ignorando as influencias negativas do ambiente e se apoiando em princípios próprios, ou até mesmo de outros ambientes, como o familiar ou o que consideram ideais. E o motivo disso ser um alívio é que essa é uma idéia que pode ser aplicado para qualquer outra situação, inclusive para a escola como um todo.     
O que isto quer dizer é que a situação na escola pública não é fácil de ser resolvida, mas nada impede que aos poucos, com alguns dos seus membros seguindo caminhos diferentes dos que são apontados sob influência do ambiente caótico no qual se encontram algumas escolas, outras pessoas se sintam motivadas a fazerem o mesmo. Da mesma forma com que Vigotsky diz que ensino-aprendizagem é um processo, uma possível solução para melhorarmos o ensino também é um processo, muito similar inclusive, em que depende da relação entre todos os elementos deste ambiente escolar.
Finalmente, a experiência que tive com esta atividade foi enriquecedora, ainda que decepcionante em alguns pontos. Foi possível notar o abismo que há entre o que é visto em teoria e o que é vivenciado em sala de aula devido à dificuldade do professor em conseguir por em prática qualquer conceito teórico. As respostas que obtivemos dos questionários foram igualmente interessantes e ajudam a visualizarmos este abismo, mas isto é abordado com mais tranqüilidade ao longo do nosso trabalho. De qualquer forma, vivenciar situações como estas é o que valorizam a nossa formação na licenciatura, e nos deixam um pouco mais preparados para o que encontraremos no futuro.

João:
Como um dos professores no grupo, ofereci a escola que leciono. O período das visitas foi vespertino. A série/ano escolhida pelo grupo foi o 9o ano do ensino fundamental, pois é uma idade de transição do ensino fundamental para o ensino médio e fazendo uma ligação com as teorias (Piaget, Vygotsky e Wallon), percebo que algumas atitudes dos adolescentes são parecidas com as de crianças, no ponto do egocentrismo. Foi muito gratificante, da parte dos alunos, em serem perguntados e expor suas opiniões isso faz com que eles sintam valorizados.


Referências Bibliográficas:

Implicações Pedagógicas do modelo Histórico-Cultural – Martha Kohl de Oliveira

Piaget – Vygotsky : Novas Contribuições para o debate – Martha Kohl de Oliveira

Lev Semionovich Vygotsky – Ivan Ivic
Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana 2010 – Coleção Educadores

Henri Wallon – Hélène Gratiot-Alfandéry
Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana 2010 – Coleção Educadores

Jean Piaget – Alberto Munari
Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana 2010 – Coleção Educadores



A tênue linha do preconceito...

Para pensar:

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Filme "Como Estrelas na Terra"

Recentemente assisti o filme "Como estrelas na Terra" ("Taare Zameen Par" no original - não me perguntem o que significa... rs). Trata-se de um filme indiano que conta a história de uma criança com dificuldades de aprendizagem e do papel fundamental exercido por um professor na vida dela.
É um filme muito interesse para relacionarmos sobretudo com a teoria de Vygotski tendo em vista todo o seu trabalho com os excluídos e a importância que o conceito de mediação exerce em sua teoria. O filme é longo mas vale a pena assistir. Inclusive para quem curte a sétima arte, atente-se também na fotografia e trilha sonora do filme: impecáveis!

No link a seguir é possível assistir ao trailer e ter acesso a detalhes do filme.
http://filmow.com/como-estrelas-na-terra-t9872/

No link abaixo é possível assistir o filme completo online (com legendas).
http://www.youtube.com/watch?v=Xvbs8sLQWQ8


Outro video que comentamos em aula, abraços... reginaldo


Segue para o pessoal os vídeos que apresentamos na aula...




Campinas, junho de 2012.

Alunos: Reginaldo Alves do Nascimento (RA064013); Renan Corrêa Cipriano (RA097523); Octávio Augusto Bueno Fonseca da Silva (RA106884); Lucas da Silva Lopes (RA117710) e Shirlliney Virginio de Sousa (RA035960).
Docente: Heloisa Andreia de Mattos Lins
Disciplina: EL511-F – Psicologia e Educação

Representações Sociais e a valoração social de conhecimentos científicos

                Quando falamos em sociedade moderna, sobre a vida em coletividade e interação com o meio (social), torna-se fácil pensar na representação social. Porém, diferente da visão advinda do senso comum, onde a representação define-se como ato de representar uma ideia ou um coletivo, ou seja, estar à frente de outros para expor ou colocar uma ideia, falando em nome de outros, tomaremos outra base de significação para desenvolver esta conceituação.
Para tanto, lembramos primeiramente que

“em história e em ciências sociais, em geral, entende-se por conhecimentos prévios um conjunto de ideias e modos de pensar ou raciocinar socialmente construídos.

Reveste-se, assim, de grande importância investigarmos em que medida esses conhecimentos prévios ou representações sociais influenciam na construção de novas aprendizagens e identidades.” ( SIMAN,  2005)”

 

            Como dito por Siman (2005), os conhecimentos prévios que temos sobre os sujeitos ou ações se tornam aquilo que chamamos de representações sociais, ou seja, os conhecimentos que adquirimos definem as nossas visões e posições sobre as coisas e pessoas, podendo estas ser mutáveis de acordo com os novos conhecimentos que adquirimos.
Porém, por esta visão, quando formulada nesta pequena definição, ainda aparecer num escopo limitado, também utilizaremos as perspectivas conhecidas como sócio interacionistas e/ou histórico-culturais apresentadas por Vygotsky para trabalhar este conceito. Utilizar-se-á principalmente este autor devido ao olhar sobre o desenvolvimento humano, sobre o pensamento, a linguagem e a aprendizagem que o mesmo apresenta.
Para Vygotsky (1991) “o pensamento não é simplesmente expresso em palavras, é por meio delas que ele passa a existir”, ou seja, o pensamento e a linguagem estão intrinsecamente ligados. Dessa maneira, para Vygótsky existe relação dialética entre o pensamento e a linguagem, assim como, para ele a aprendizagem não está descolada do desenvolvimento, mas caminha junto e o estimula todo o tempo.
Ademais, com Vygótsky (1935), surge a definição de mediação. Este conceito define-se o processo de intervenção de um intermediário; como os sujeitos, os signos (palavras) e instrumentos. Sendo assim, o ser humano pode relacionar-se com a natureza e com os outros indivíduos de forma diferente do resto dos animais. Por isso, ao sofrer algum estímulo, ele responde ao mesmo, no entanto não de forma direta, mas sim mediada, onde principalmente a linguagem<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> surge como mecanismo intermediário (mediador) em tomadas de decisão e de reflexão.
Como também, fica claro que Vygóstsky toma como prerrogativa que o ser humano desenvolve seu raciocínio e cria as condições de pensar e se desenvolver da forma que desenvolve não só por suas condições biológicas, mas principalmente pelas condições socioculturais nas quais ele está inserido e pelas relações (mediações) que estabelece com o meio.
Tomando como base estas formulações, torna-se possível entender as representações sociais como os processos aqueles conhecimentos que adquirimos no meio social, através do contato que estabelecemos com o outro. Ou seja, no contato com o meio social criamos suposições e conceitos sobre aquilo que observamos. Estas representações muitas vezes feitas a partir do conhecimento trazido pelo outro, pelo meio social no qual estamos. Assim sendo, a “representação social” torna-se uma mediação do sujeito com a coletividade, determinando conceitos de valorização de uma coisa em relação à outra.
Escolhendo e determinando comportamentos, trejeitos, vestuários através do que estes “instrumentos”, o sujeito cria sua linguagem de comunicação com o coletivo, esta linguagem mediada (que não é necessariamente verbal) ditará sua relação imediata em relação ao “meio” que se identifica/ quer pertencer. Sendo que esta condição torna-se, portanto, signo de “pré-conceitos” que adquirimos para relacionar.
Dessa maneira, busca-se evidenciar nesta investigação que muitos dos pré-conceitos e preconceitos, aqui chamados de representações sociais, que criamos em relação às pessoas e suas escolhas são também determinadas pelos graus de valorização social que as áreas de conhecimento e algumas profissões têm em nossa sociedade.
Pensando também que
“as representações surgem, assim, como a capacidade de dar às coisas uma "nova forma" por meio da atividade psíquica. Esta envolve uma mediação entre o sujeito e o objeto-mundo. Como o sujeito se insere numa comunidade concreta e simbólica, este não está condenado a simplesmente reproduzir esta realidade.” (Siman, Lana Mara de Castro. Cad. CEDES v.25 n.67 Campinas set./dez.  2005)

            Ou seja, pelo fato de o ser humano estar em constante contato com o meio social e entende-lo enquanto sujeito ativo de transformação e intervenção, é pretendido mostrar que, mesmo existindo uma visão social, existem diferenças entre as formas com que os pré-conceitos aparecem são encarados por cada sujeito. Isto porque, também é tomado como prerrogativa que cada ser humano trilha um caminho único de conhecimento e desenvolvimento, criando uma visão distinta da dos outros sujeitos, podendo concordar e/ou discordar do pensamento social majoritário, porém sempre dentro do escopo do pensamento social.
Como dito por Couche (2002)
“a identidade social não diz respeito unicamente aos indivíduos. Todo grupo é dotado de uma identidade que corresponde à sua definição social, definição que permite situá-lo no conjunto social. A identidade social é ao mesmo tempo, inclusão e exclusão: ela identifica o grupo (são membros do grupo os que são idênticos sob um certo ponto de vista) e os distingue de outros grupos (cujos membros são diferentes dos primeiros sob o mesmo ponto de vista). Nesta perspectiva, a identidade cultural aparece como uma modalidade de categorização da distinção nós/eles, baseada na diferença cultural.” (CUCHE, 2002, p.177)
           
Dessa maneira, também conceituamos o indivíduo, aqui chamado de sujeito social, como aquele que admite sua identidade através do conhecimento e da relação com o meio social, ou seja, ao tempo que a identificação e formação do sujeito se dão através dos “círculos sociais” no qual se insere, também é nele que se criam as suas particularidades/diferenças.

Procedimentos e pesquisa:
A luz das representações sociais, pensando nas construções dos sujeitos dentro de uma sociedade, pretendeu-se fazer uma pequena análise sobre como se de fato existe pré-conceitos e preconceitos em relação aos alunos de determinadas áreas de conhecimento científico em relação a outros.
Dessa maneira, através de uma série de entrevistas com variados grupos sociais foi possível constatar a existência de valoração de uma área de conhecimento (Exatas, Humanas e Biológicas) em relação à outra. Para deixar mais nítida a ideia que concerne este trabalho, apontou-se a ideia de serem analisadas as construções de representação (preconceitos) entre os alunos Unicamp, alunos do Cursinho Popular do DCE da Unicamp, localizado na Escola Estadual Carlos Gomes (Centro de Campinas), alunos de universidades particulares de Campinas, assim como o caso de pessoas já escolarização e formação profissional superior.  O procedimento de recolhimento de dados foi feito através de ficha preenchida pelos entrevistados, sendo que estes poderiam responder da maneira que fosse mais adequado e sem necessariamente ter que se identificar.
Com isso, de forma mais detalhada, o questionário conteve oito perguntas. Estas divididas em blocos de questões dissertativas e alternativas.
Tentamos observar no questionário três questões básicas:
<!--[if !supportLists]-->1)      <!--[endif]-->Verificar se a maior parte dos alunos estava cursando a sua área afim, ou seja, um aluno que gosta da área de exatas se ele seguia esta área ou ia para outra, devido a dificuldade em passar no curso/área desejada.
<!--[if !supportLists]-->2)      <!--[endif]-->Verificar nas respostas dadas em relação aos cursos (qual curso é mais valorizado e qual é menos valorizado) sobre quais são os motivos que levam cada uma das pessoas a responder aquela questão. Por exemplo, um aluno que responde que o curso mais importante é a medicina responde isso por quê? E um aluno que responde que o menos valorizado é filosofia responde isso por quê?
<!--[if !supportLists]-->3)      <!--[endif]-->Por fim, verificar de forma mais explícita as representações sociais criadas em cima de cada área, ou seja, quais são os pré-conceitos criados pelos alunos de humanas em relação às exatas e biológicas, de exatas em relação às outras duas áreas e o mesmo em relação aos de biológicas. Assim como, verificar se este efeito se dá também para o ensino médio ou para quem já passou pela universidade ou se é uma característica tipicamente universitária ou ainda tipicamente da Unicamp/universidade pública.
Esperávamos com as respostas, dessa maneira, analisar qual área dentre biológicas, exatas e humanas obtém maior prestígio social, principalmente para os grupos entrevistados, se ele confirma ou não o discurso social majoritário.
            Devido a entraves de ordem metodológicos e burocráticos, não foi possível de fato entrevistar um dos grupos escolhidos, o do Cursinho Popular do DCE e da Escola Estadual em questão. Dessa maneira, o corpus da pesquisa ficou da seguinte maneira:


<!--[if !vml]-->
<!--[endif]-->            Como vemos no gráfico acima, foi feita uma base de dados que envolveram em torno de 32 pessoas, sendo 16 dos entrevistados alunos da Unicamp ou alguma universidade Pública, 9 entrevistados de uma Universidade Particular de Campinas, a UNIP, 4 pessoas já formadas e 3 pessoas que encerraram seus estudos ainda no ensino médio.



Gráfico 2.

            Destes dados presentes no segundo gráfico, notamos que 14 pessoas cursavam algum curso de humanas ou simpatizavam com a área, 10 cursavam ou simpatizavam com a área de exatas e 8 cursavam ou se simpatizavam com a área de Biológicas. Todos os entrevistados, com exceção de um, disseram que o Curso de Medicina é o mais importante dos cursos, já que é um curso que visa a cuidar da saúde e sobrevivência das pessoas. Já em relação aos cursos de menos prestígio revelou-se principalmente o curso de Filosofia (24 dos entrevistados), por dois motivos básicos: primeiro por não verem uma funcionalidade para o curso, no sentido técnico de funcionalidade, assim como por não ser um curso valorizado financeiramente.
Já em relação às perguntas dissertativas, que tinham o caráter mais explícito de verificar as representações criadas pelos sujeitos, notamos que praticamente todos os alunos da Unicamp identificam os estudantes de outros cursos pelo vestuário ou algumas marcas significativas na identificação das pessoas. Dentre as quais, notamos que existe uma grande valoração e pré-conceitos em relação ao que as pessoas dizem em relação às outras. As pessoas de humanas, por exemplo, sempre se dirigiam aos estudantes de exatas, principalmente os estudantes de engenharia, como aqueles que não pensam e sem cultura. Enquanto os estudantes de engenharia e mesmo de cursos de humanas se dirigem aos estudantes do IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) de forma pejorativa, identificando-os com valores e estigmas dados àqueles que não se adéquam aos padrões valorizados pela sociedade.
Dessa maneira, abaixo selecionamos algumas das respostas mais interessantes sobre o tema:
“Em geral os estudantes de Humanas são menos apegados à marcas, e essa é uma característica que podemos usar para identificá-los. Geralmente os alunos do IFCH, IEL e IA se preocupam menos com o vestuário do que os de Exatas e Biológicas”  (U.F, Filosofia)
“[...] para você identificar se uma mulher é do IFCH, basta ver se ela está de meia grande, comprida e rasgada [...] se for bonita, mas fedida, é de artes cênicas [...] se estiver usando roupas caras, bolsa, etc., é da Medicina[...]” 
(Anônimo, Funcionário do Instituto de Artes)
“Em geral os estudantes de Humanas são de esquerda. Os do IEL e IA são bacanas, mas os do IFCH são quase todos maconheiros e comunistas ao extremo. Os de exatas, por sua vez, são mais baladeiros. Os alunos de exatas e biológicas tem um nível cultural muito superficial. Na minha van quem é de exatas só sabe falar de cerveja, sexo e futebol. Nunca falam nada mais elaborado. É que o curso deles só ensina uma técnica de trabalho e não modifica o ser” (A. M, IEL).
“Pessoas mais atléticas fazem educação física, e pessoas mais retroativas, sedentárias, nerds estão na área de exatas.” (isto não é uma rotulação, mas na maioria é assim).(Anônimo, Formado na área de Humanas)
            Já em relação às pessoas que não tem contato com a Unicamp, já se formaram ou que estudam em Universidade Particular a respostas foram bem diferentes. Todos respondendo que a forma de vestir não remete necessariamente a qual curso ou profissão a pessoa está:
“Acho que não é possível traçar um padrão, pois muitas escolhem uma faculdade por não ter opção, umas por causa do seu emprego e outras pela falta de grana, por exemplo. Acho que a escolha de uma profissão vai além de vestuário ou forma de falar.” (Anônimo, formado na área de Exatas)
“Acredito que não, pelos motivos descritos na questão anterior, por exemplo. Na profissão de educadores físicos mesmo, que tem-se  o preconceito de que todos devam ser sarados e com hábitos saudáveis, no entanto na realidade, observa-se alunos e profissionais fora dessa generalização.
Pergunta: Já tentou fazer isso em alguma ocasião? R: Confesso que já generalizei, mas hoje percebo que é totalmente equivocado esse pensamento.”
(R, Ed. Física)
Notou-se, dessa maneira, que somente nas pessoas que estudam, estudaram na Unicamp ou que mantém algum tipo de contato com a Universidade apresentam este tipo de representação. Dizendo acreditar ser possível adivinhar alguém através de traços como estilo, vestuário, modo de falar, etc. Já os que estão fora da Unicamp e até mesmo com ex-alunos da universidade, este pensamento não foi constatado, ou mesmo quando, o entrevistado levanta questões que relativizam a própria representação criada. Podendo levantar-se a hipótese que este fato ocorre pelo fato que nos meios sociais em que a identificação com o coletivo não se faz por estes caminhos, estes não se tornam mais importantes.
Podemos notar, nos casos expostos, que existem dois tipos de identidades apresentadas pelos entrevistados, quando olhamos o corpus da Unicamp principalmente, no caso das humanas. Neste caso, geralmente os alunos utilizam marcas de sua identidade para se sobressair em relação aos outros cursos dentro da própria área de humanas. Nota-se isto em relação ao caso da resposta dada pele pessoa entrevistada que é do IEL, em que mesmo sendo de uma área socialmente não valorizada, ela utiliza de uma representação criada pela comunidade para se diferenciar do outro. Dessa maneira, a entrevistada cria duas identidades, a sua e a do outro, o que se veste mal e o que não se veste.
Quando vemos as afirmações:
“Existe uma associação entre identidade da pessoa e as coisas que esta pessoa usa. Símbolos são significantes importantes da diferença e da identidade.” (HALL, 2000, p.10)
“A identidade é relacional. Ela (a identidade) depende, para existir, de algo fora dela: a saber, de outra identidade, de uma identidade que ela não é” (HALL, 2000,p.9)
            Estas duas afirmações de Hall (2009) demonstram um fator interessante que ocorre dentro da Unicamp, que para se afirmar dentro do próprio espaço universitário, onde já existe uma valorização social geral em relação aos que fazem parte deste meio, entre aqueles que são mais ou menos valorizados. Dessa maneira, as pessoas das engenharias se diferenciam por não serem de humanas e por não serem de uma particular, como a UNIP, já os de humanas também em relação a ser de um determinado Instituto ou não, criando assim nichos de convívio e de distanciamento uns em relação aos outros.
Considerações Finais:
Com este trabalho notamos que não há nada que tomemos contato que não repercuta em uma representação. Sendo um ser social, o ser humano está sempre cercado de representações sociais que são construídas historicamente, portanto, mutáveis e intercambiáveis entre os diversos grupos que compõem uma determinada sociedade.
            A pequena análise feita permite perceber o mesmo movimento que visa reforçar uma identidade pode gerar também um viés preconceituoso. Concluímos neste exercício que as representações sociais existem e tem um razoável poder de influência sobre os julgamentos e as interações entre alunos, e de certo modo também acreditamos que os professores possam ser influenciados por elas (as representações sociais). Vygóstsky acreditava que o modo mais eficiente para ensinar dependia da linguagem e do mediador. A linguagem proporcionava signos e símbolos capazes de adquirir significados distintos associados ao mecanismo de representação social, que nada mais é do que a forma como esses símbolos, palavras etc. são interpretados pela maioria da sociedade, adquirindo um significado que tanto pode ser relacionado à uma qualidade ou algo digno de autoestima quanto a um preconceito vil, que impede a autoestima e a interação do indivíduo com o grupo. E o mediador sabe o valor da afetividade e empatia no processo de aprendizagem, e sabe também perceber as representações sociais relacionadas ao aluno e usá-las ao seu favor, em certas ocasiões dando a elas novos significados na tentativa de melhorar a autoestima dos alunos, e em outras corrigindo excessos, mas sempre usando-as em favor do processo de aprendizagem.
            Deste modo, é fácil demonstrar que todas tem suas particularidades, e não é possível criar uma escala de valoração entre profissões, pois cada profissão e área contempla um função importantíssima para a existência e desenvolvimento social, porém verifica-se em nossa realidade que esta prática existe, e o que fundamenta essa valoração não é o “nível de dificuldade, absorção de conhecimento ou abstração entre as profissões” e sim sua necessidade mercadológica (o caso das engenharias em geral), facilidade com que se organizam como classe e estabelecem pautas que defendam seus interesses na sociedade (o caso da Medicina é um exemplo evidente disso, uma profissão que em menos de dois séculos evolui de “bico” sem prestígio praticado por barbeiros com uso de sanguessugas, a condição de autoridade sobre as práticas corporais, e com o ato médico, tomou para si o direito e autoridade sobre várias outras áreas ligadas a Saúde Pública).
            Naturalmente as representações sociais construídas nos meios sociais aparecem na escola ou na universidade, pois, esta se configura como uma extensão da sociedade, muitas vezes condensando conflitos sociais que nela aparecem de modo mais visível. Porém, estas representações não são fixas e imutáveis, mas permeadas e flexíveis de acordo com a posição/espaço ocupado no circulo social em questão. Sendo assim, qual o papel do professor/educador em meio a representações conflitantes que tomam lugar na sala de aula?
Em primeiro lugar, cabe ao mediador, no caso o professor/educador, não se tomar pelas representações pejorativas, ou seja, que valorizem alguns em detrimento de outros. Comumente docentes recém-chegados a determinado espaço escolar recebem de seus colegas todas as indicações referentes à qual a melhor e pior turma, quais os alunos problemáticos, quais os alunos considerados acima da média e, em algumas situações, até mesmo a respeito de quais os colegas mais e menos participativos.
Cabe ao professor não se deixar influenciar, não receber passivamente as representações previamente construídas. Caso as aceite, o natural é que incorram em um tratamento diferente entre os que são bem vistos e os que são mal vistos.
Além disso, em um segundo momento, cabe ao educador levar em consideração as representações sociais vigentes em seu trabalho dentro de sala de aula. Sendo um microcosmo da sociedade externa, os preconceitos e discriminações tendem a aparecer dentro da sala de aula também. O docente deve identificar quais os preconceitos que imperam entre os alunos e fazer um trabalho que vise à subversão destes preconceitos. Evidentemente é um trabalho árduo e sem garantias de ser alcançado, porém, é única maneira do educador contribuir para uma educação que desafie o status quo.
O trabalho com a alteridade, com a valorização do outro se torna enriquecedor para o grupo como um todo. Mais do que libertar o alvo do preconceito da estigmatizarão sofrida, a quebra de preconceitos é libertadora para aquele que nutre tais representações.

Bibliografia:

SIMAN, Lana Mara de Castro. Cad. CEDES v.25 n.67 Campinas set./dez.  2005
CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru SP. Ed. Edusc. 2002
HALL, Stuart (Org.). Representation. Cultural representation and signifying pratices. Londres: Sage Publications, 2000.
VYGOTSKY,L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1991.
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<!--[endif]-->
<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> Para Vygotsky (1935), a Linguagem surge da necessidade de comunicação para a realização do trabalho coletivo; surge da necessidade de um sistema simbólico complexo que permita a discriminação de objetos para serem armazenados na memória, para que desta forma o homem pudesse pensar em objetos mesmo quando estes não estivessem em seu campo visual.

Atividade Prática Afetividade e Emoção


Afetividade e Emoção
Amanda Nunes Rabello                   080589
Bárbara de Oliveira Araújo              116204
Luma C. M. Costa                            092139
 “É arduo decidir se o que afetou mais e foi de maior importância foi nosso interesse pelas ciências que eram ensinadas ou pelas personalidades de nossos professores.” (Freud)
1.    Introdução Teórica
Piaget toca o tema afetividade, principalmente em suas obras que tratam do Juízo Moral do indivíduo. Para o autor, “...desde o período pré-verbal, existe um estreito paralelismo entre o desenvolvimento da afetividade e o das funções intelectuais, já que estes são dois aspectos indissociáveis de cada ação. [...] Nunca há ação puramente intelectual [...], assim como também não há atos que sejam puramente afetivos...” (Seis Estudos de Psicologia – Jean Piaget).
A partir daí, pode-se evidenciar também dois conceitos importantes que o autor cita: coação e cooperação. As relações de coação são aquelas em que o respeito unilateral predomina, e as regras ou conteúdo são impostos do exterior para o interior, assumindo, portanto, o sujeito um caráter passivo. Já nas relações de cooperação “... a essência é fazer nascer, no próprio interior do espírito, a consciência de normas ideais, dominando todas as regras” (O Juízo Moral na Criança – Jean Piaget). Neste segundo tipo de relação, predomina o respeito mútuo, dando ao sujeito a possibilidade de assumir caráter ativo, tão defendido por Piaget.
Carl Rogers foi um psicólogo norte-americano, considerado precursor da psicologia humanista e criador da linha teórica conhecida como Abordagem Centrada na Pessoa (ACP). Rogers foi responsável por um fenômeno na psicologia chamado, posteriormente, de inversão de focos. Isso se deve ao fato de que Rogers começou a observar que não era suficiente dar resposta ao problema, e passou, então, a olhar mais para a pessoa.
Um dos pressupostos básicos do qual Rogers parte é a tendência atualizante, termo empregado pelo próprio psicólogo. Desta forma, para ele, o desenvolvimento poderá acontecer, ainda que de forma mínima, devido a tal tendência. Porém, ocorrerá tanto mais plenamente, quanto mais forem as condições facilitadoras. Nas relações interpessoais, para Rogers, tais condições são: congruência, ser verdadeiro consigo mesmo e com o outro; empatia, “eu me colocar no lugar do outro, como se fosse o outro”, diferente de “eu no lugar do outro faria dessa maneira...”( É, acima de tudo, um profundo respeito); consideração positiva incondicional, aceitar o outro na sua totalidade, sem colocar condições para tal aceitação. Usando desses três conceitos como atitudes facilitadoras, torne-se possível levar em consideração a questão afetiva existente em qualquer relação interpessoal
Vygotsky introduz a filosofia espinosana com o objetivo de superar a visão negativa de que as emoções são antagônicas à razão. Diz ainda que:
“Toda emoção é um chamamento à ação ou uma renúncia a ela. Nenhum sentimento pode permanecer indiferente e infrutífero no comportamento. Ao sermos afetados, se alteram as conexões iniciais entre mente e corpo, pois os componentes psíquicos e orgânicos da reação emocional se estendem a todas as funções psicológicas superiores iniciais em que se produziram, surgindo uma nova ordem de conexões.” (Vygotsky, 2001, p. 139)
O autor define o papel das emoções como organizadores internos de nosso comportamento que estimulam ou inibem nossas ações. A emoção é a base do pensamento, porém Espinosa e Vygotsky compartilham da ideia de que um pensamento não motivado é tão impossível quanto uma ação sem causa. As emoções em conjunto com o desejo e a necessidade contém o último porquê de nossas atividades e ideias.
A pedagogia de Wallon é centrada no Humanismo, um ponto principal de sua proposta se destaca: a integração entre as dimensões afetiva, cognitiva e motora que formam a pessoa completa.
Wallon e Vygotsky são dois autores que desenvolveram teorias de desenvolvimento muito importantes para reconceituar o papel da afetividade no processo do desenvolvimento humano e no processo educacional.
2.    Atividades Práticas
2.1.  Observações em aulas de natação - Amanda
Nesse prática foram observadas duas formas de abordagens em aulas de natação. Em uma delas o professor se mantinha fora da piscina, o que dificultava sua comunicação com os alunos, e também sua relação com os mesmos. Na outra o professor entrava na água junto com as crianças.
Foi constatado que quando fora da água, além da comunicação ser sempre em tons de voz mais altos (quase gritando), o professor era privado de auxilixar o aluno, dificultando a passagem do nível de desenvolvimento potencial para o desenvolvimento real do aluno, conforme propõem Vygotsky. Além disso foi possível notar que a relação professor-aluno era de coação, os alunos respeitavam o professor por medo de punição,  percebíamos um respeito, mas não uma confiança do aluno com o professor.
Por outro lado, quando dentro da água foi possível observar que, diferente do que eu pensava, o tom de voz não era o mais importante, mas sim o contato mais próximo que essa abordagem proprocionou. Permitindo que o professor participasse de momentos de interação entre as crianças, e estabelecesse uma relação de confiança entre professor-aluno.
Obviamente a afetividade nesse caso vai muito além da confiança, porém como na natação temos que lhe dar com muitos traumas e medos, acredito que a confiança seja primordial nessa atividade.
Segundo Pessoa (2000) o professor livre de ideias pré-concebidas sobre o aluno, pode respeitá-lo e investir nele. Assim haverá uma relação professor-aluno genuína fundamentada na afetividade, confiança mútua e sinceridade. Relação contrário do que observamos nas aulas que o professor se mantinha fora da água.
Pessoa vai além, e ressalta que só o amor não é o bastante. Que além dessa relação, é necessário uma prática pedagógica estabelecida no respeito, na autoridade e no estabelecimento de limites, para que assim o professor permita o desenvolvimento do EU do aluno para que ele desenvolva auto-estima, confiança e respeito a si e ao outro. Conceitos observados nas aulas nas quais o professor se mantinha dentro da piscina, em que além de estabelecer uma boa relação com os alunos, era possível um maior controle da turma.Sergio Leite, quando relata estudos de campo, divide a observação em duas categorias: posturas e conteúdos verbais. Aspectos de postura valorizados são de proximidade e receptividade, enquanto que os aspectos verbais são os incentivos. Seguindo essas duas categorias, em nosso trabalho de campo, ficou evidente posturas diferentes de professores e como isso resulta na interação com a sala.
2.2.  Curso Affective Learning - Bárbara
Minha escolha por tratar a questão do curso desenvolvido sobre o “aprendizado afetivo” em cursos de idiomas foi, além estar integralmente relacionado com o tema “Afetividade e Emoção”, porquê estava bem próximo de minha realidade diária e o “trauma” no aprendizado de uma segunda língua, está cada vez mais evidente atualmente, com a demanda do mercado por pessoas que falem uma ou mais línguas.
Os temas abordados no decorrer do curso sobre Ensino Afetivo e o próprio fato de ter sido desenvolvido um curso com esse tema, assemelham-se com as propostas de Wallon. Conforme Wallon, Almeida também ressalta que “é da disposição de o professor estar na direção, estar voltado para seu aluno, que dependerá a marca de sua contribuição ao desenvolvimento do aluno que lhe for confiado.” (p. 82).
Muitos alunos da escola de idiomas citada apresentam queixas em relação aos professores. Além de efetuarem a matrícula no curso de idiomas, com a sensação de bloqueio de quem “já é adulto e nunca conseguiu aprender inglês”, as empresas nas quais trabalham, o obrigam a desenvolverem essa habilidade o mais breve possível.
Um dos professores não tão queridos pelos alunos, possui um perfil um pouco mais rígido – o que não deixa de ser uma demonstração de afetividade - ,  e demonstra mais atenção e paciência com os alunos que possuem mais facilidade no aprendizado, apontando as dificuldades e limites do aluno “deficitário” de forma dura, demonstrando pouca ou nenhuma esperança na possibilidade de melhora do aluno.
Lembrando que tratam-se de alunos adultos, acredito que o aluno poderá seguir dois caminhos a partir dessa situação: superar essa imagem criada por esse perfil de professor e, até mesmo, utilizá-la à seu favor como meta de desenvolvimento; ou encarar essa experiência como o atestado de seu fracasso, principalmente no aprendizado de  línguas, podendo talvez não voltar a estudar um segundo idioma. Segundo Almeida, o aluno carrega consigo experiências sociais e escolares anteriores:
“O apoio que o professor dará ao aluno nessa travessia da criança para o adulto, terá maior ou menor relevância dependendo de ele olhar muitas vezes para trás para avaliar seu próprio desempenho; de olhar o aluno com reverência ou acatamento; lembrando sempre que a criança de hoje é o adulto de amanhã; ter em conta suas condições de aprendizagem e as de seu meio; de seguir as determinações, cumprir, observar, acatar o ritmo de desenvolvimento próprio de sua etapa de formação.”
Já um dos professores queridos pelos alunos é exigente mas de uma maneira diferente da primeira: possui uma fala firme, mas ao mesmo tempo suave e calma e demonstra sua exigência aos alunos no sentido de que conhece o potencial deles e, pensando no sucesso de sua turma, procura sempre corrigi-los em sala de aula de maneira discreta, encarando o erro e dificuldade como processo comum na aprendizagem. A professora demonstra ter bastante conhecimento e interesse sobre o que ensina, fazendo com que os alunos tenham mais vontade de aprender. O que ressalta a importância de “Contagiosidade”, que conforme esclarece Wallon, “é a capacidade de contagiar o outro” (citado por LEITE, P. 20, 2006).
A primeira professora informa que não sentiu que o curso teve muita importância em suas rotinas pedagógicas, mas foi constatado por seus colegas de trabalho e pela diminuição da reclamação por parte de seus alunos, que ela acabou refletindo mais sobre suas práticas.
2.3.  Observações em sala de aula - Luma
Em uma primeira aula, disciplina de Matemática, a professora se mostrava calma, mesmo que às vezes irritada, chamava atenção de alguns alunos, se mantinha sentada em sua mesa. Quando não estava passando conteúdo na lousa, ainda sentada ela recebia alunos em sua mesa, ou passava pelas carteiras acompanhando a realização de exercícios. Durante toda a aula, ficou claro que a professora exigia um profundo respeito dos alunos para com ela, e em nenhum momento falou desrespeitosamente com os alunos. Tem-se aqui um exemplo do respeito mútuo citado por Piaget em sua obra. Observando os conteúdos verbais, além de manter um tom de voz mediano, a professora sempre que possível elogiava os alunos que acertava os exercícios, e em nenhum momento recriminou os que não acertaram. Os alunos, em sua maioria, se mostravam atentos e participativos.
  Um exemplo oposto pôde ser observado em uma aula da disciplina de Português. A professora, assim que entrou na sala de aula, já falou com os alunos num tom de voz muito acima do necessário para o ambiente de uma sala de aula, e mesmo assim, os alunos pareciam que não ouviam o que ela dizia, pois praticamente todos estavam fora de seus lugares, e realizando quaisquer outras atividades. Depois de alguns gritos de pedido de atenção por parte da professora, a aula começou e assim que foi passada uma atividade, os alunos já se levantaram e foram uns nas mesas dos outros novamente. A professora, semelhante à professora de Matemática, também caminhava pelas carteira, porém, mesmo muito perto do alunos, seu tom de voz era altíssimo e o conteúdo era sempre de repressão e/ou reclamação. A reação dos alunos era claramente oposto à reação que os mesmos apresentaram durante a aula de Matemática, se mostravam desinteressados e desmotivados.
As perguntas relativas à opinião deles sobre os professores são respondidas pela qualificação de “legal” ou “chato”, termos extremamente ligados à afetividade. Nestas respostas ficam evidenciadas duas observações relatadas no texto de Sérgio Leite. Além de a interpretação feita pelo aluno ser de natureza afetiva, ela está ligada à postura que a professora assume ao falar com a classe.
A pesquisa feita com professores pôde evidenciar qual é a ideia que a maioria tem em relação ao termo Afetividade.  Na pesquisa feita com duas professoras da Educação Básica, quando a pergunta foi sobre o que era considerada afetividade em sala de aula, ambas deixaram claro que o termo carrega o significado do senso comum, a ideia de que a relação afetiva com os aluno é aquele baseada em carinho, bondade.
Sobre a formação como professor, a ausência de um estudo sobre o tema afetividade/emoção foi a resposta dada por todos os entrevistados. Tanto na Educação Básica, quanto na Educação Superior, outra ideia predominante é que afetividade está ligada a alunos mais novos, e não a adolescentes, jovens e adultos. Uma professora, em uma conversa na observação realizada, diz que estabelecer relação afetiva é possível no Ensino Fundamental, mas nunca no Ensino Médio. O mesmo professor de Educação Superior, citado anteriormente, também aparenta ter mesma posição.
            Interessante notar que, na faculdade em que foi realizada a pesquisa, a proposta foi feita a oito professores, porém, obtivemos aceitação de apenas três deles. O primeiro foi esse professor já citado, e dentre as outras duas, uma se destaca pois, apesar de o entrevistado relatar que não estudou o tema afetividade em seu curso de formação de professor, sua ideia sobre tal tema muito se aproxima das teorias estudadas por nós.
3.    Conclusão
Na teoria psicológica de Wallon, o aluno é tratado como pessoa completa, e a escola é indispensável à formação do ser humano, ele lembra que para que a educação tenha essa eficácia é necessário que o professor seja formado de forma adequada. Desta maneira, seria válido se os professores tivessem consciência que dar aula não se resume à simples transmissão de conhecimento, mas sim, numa relação extremamente marcada pela afetividade. Paulo Freire faz referência a isso quando diz “Às vezes mal se imagina o que passa a representar, na vida de um aluno, um simples gesto do professor.”
4.    Referências Bibliográficas
·         ALMEIDA, L.R. Wallon e a educação in: Henri Wallon Psicologia e Educação. Edições Loyola.
·         COSTA, C. M. Considerações feitas em relação a ACP. Programa de Atendimento Psicológico - Paróquia São Benedito. Campinas. 11/04/12.
·         LEITE, S. A. S. Afetividade e práticas pedagógicoas. Casa do Psicólogo: São Paulo. 1ª edição. 2006.
·         PIAGET, J. O juízo moral da criança. São Paulo: Sumus. Edição 7. 1994
·         PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Éditions Gonthier S.A.: Geneva. Edição 25. 2011
·         PESSOA, V.S. A afetividade sob a ótica psicanalítica e piagetiana. In: Ciências Humanas, v. 8, n. 1, p. 97-107. 2000.
·         SAWAIA, B.B. Psicologia e desigualdade social: uma reflexão sobre liberdade e transformação social. In: Psicologia e Sociedade, v. 21, n. 3, p. 364-372. 2009.
·         SAWAIA, B.B. A emoção como locus de produção do conhecimento – Uma reflexão inspirada em Vygotsky e no seu diálogo com Espinosa. Conferência de Pesquisa Sócio-cultural, 3. 2000, Campinas.