sexta-feira, 15 de junho de 2012

Abordagem Histórico-Cultural



             Análise Crítica - Módulo Histórico-Cultural

Luma Corrêa M. Costa - 092139

Uma forma de se iniciar uma análise sobre a abordagem histórico-cultural estudada, de Vygotsky e Wallon, é introduzindo algumas outras posições teóricas sobre desenvolvimento e aprendizagem, sendo a primeira piagetiana. Segundo Piaget, desenvolvimento e aprendizagem caminham separadamente, de modo que o desenvolvimento precede a aprendizagem, ou seja, este último não interfere no desenvolvimento do indivíduo, e é a instrução que deve seguir o crescimento mental. Há, porém, uma segunda posição teórica que defende que aprendizagem e desenvolvimento caminham juntos. Como que numa fusão dessas duas, surge uma terceira posição, dividindo o desenvolvimento em dois processos, sendo eles maturação e aprendizado. Afirma ainda que, neste último, o aprendizado não só caminha junto com o desenvolvimento como também o estimula.
                Partindo da apresentação dessas posições teóricas, é possível introduzir a teoria vygotskiana, começando justamente pelo seu conceito de desenvolvimento e aprendizagem. Para ele, ao contrário de Piaget, é a aprendizagem que precede e interefere de forma significativa o desenvolvimento. Vygostsky, no intuito de organizar seus pensamentos, define três conceitos com os quais trabalha, sendo o mais abordado pelo pesquisador o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal. Para ele, existem dois níveis de desenvolvimento a serem analisados no indivíduo. O primeiro é aquele referente a tudo que o indivíduo já assimilou, ou seja, tarefas que ele é capaz de realizar sozinho, sendo, portanto, resultados de ciclos concluídos da aprendizagem. Tal nível é denominado Nível de Desenvolvimento Real (NDR). Porém, outro nível de desenvolvimento, geralmente negligenciado em algumas pesquisas, mas ressaltado por Vygotsky, é o Nível de Desenvolvimento Potencial (NDP). Neste nível, encontram-se os resultados obtidos pelo indivíduo com alguma interferência externa, ou seja, tarefas que ainda não são realizadas de forma independente, mas representa o que será o Desenvolvimento Real, no futuro.
                Entre esses dois níveis apresentados (NDR E NDP), se encontra a tão estudada Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Na ZDP é que está todo o potencial que o indivíduo tem para prosseguir com sua aprendizagem. Ali estão funções que ainda não amadureceram, mas estão em processo de desenvolvimento. Vygotsky chama atenção para este conceito, e acredito que é realmente de muito interesse reconhecê-lo, pois a partir disso, pode se tornar mais eficaz nosso trabalho como professor, se conseguirmos, atuar exatamente naquilo que o aluno tem em potencial, e não ficar estagnado naquilo que ele já assimilou, como o próprio pesquisador afirma. Penso também que, dessa maneira, a motivação para aprender, por parte dos alunos, poderia ser diferente, quando o que cada indivíduo tem de melhor seria ressaltado.  
                Novamente citando Piaget, como comparação à teoria vygotskiana, é interessante relembrar a análise do primeiro, agora sobre pensamento e linguagem. A fala egocêntrica, ou o “falar sozinho” presente na fase da infância, é amplamente estudada por ambos, e relatada como desaparecida por Piaget depois do amadurecimento, porém, Vygotsky defende a ideia de que esta fala, na verdade, apenas passa por uma transformação, e na fase adulta, assume papel de fala interior, ou seja, é ainda um falar consigo mesmo, como forma de organizar os próprios pensamentos, porém de forma silenciosa. Além disso, ele aponta ainda duas funções para a linguagem: intercâmbio social e pensamento generalizante.
                A linguagem como intercâmbio social se dá, simplesmente, pela necessidade de comunicação, que impulsiona o seu desenvolvimento. Já na análise da linguagem como pensamento generalizante, é onde fica explícito a relação entre pensamento e linguagem defendida por Vygotsky. Ele afirma que a linguagem assume essa função, uma vez que tem o poder de agrupar elementos numa mesma categoria, e diferenciar todos os outros com características diferentes. Desta forma, a palavra cadeira, por exemplo, pode dividir o mundo real em dois grandes grupos, tudo aquilo que é cadeira, e tudo aquilo que não é cadeira. É, portanto, no significado de cada palavra que o pensamento e a linguagem se unem. Existem, aqui, dois termos diferentes para Vygotsky: o significado é a relação estabelecida à palavra por meio da cultura, e é relativamente estável; o sentido é composto pelas relações que cada indivíduo estabelece com a palavra, através do contexto utilizado e de suas experiências afetivas, sendo, portanto, instável.
                Partindo do estudo da linguagem, se chega ao estudo dos processos psicológicos, uma vez que ambos estão relacionados. Existe uma fase pré-linguística do pensamento, e a fase pré-intelectual da linguagem. A primeira pode ser comparada, mais uma vez, à teoria de Piaget quando ele se refere ao período sensório-motor das crianças. Nessa fase, adquire-se a inteligência prática, processos psicológicos inferiores, similares aos demonstrados por outros animais. Na fase pré-intelectual da linguagem, as manifestações verbais são utilizadas para alívio emocional, como o choro ou o riso, por exemplo, já estabelecendo uma relação social com o meio. Depois que ocorre a junção de pensamento e linguagem, a linguagem racional, ou o pensamento verbal, são predominantes nas ações humanas, porém não extingue a linguagem sem pensamento, nem tampouco o pensamento sem linguagem. Porém, essa predominância da linguagem fundida ao pensamento, caracteriza os processos psicológicos superiores, característicos da espécie humana.
                Passando à teoria psicológica de Wallon, tem-se que o desenvolvimento se dá pela interação de quatro dimensões destacadas pelo pesquisador: afetividade, conhecimento, ato motor e a pessoa. Assim, todo e qualquer tipo de ensino deve se dirigir à pessoa inteira, e a eficácia da educação se fundamenta no estudo do psicológico da criança. Ressaltando a escola como indispensável à formação do ser humano, ele lembra que para que a educação tenha, portanto, essa eficácia que ele cita, é necessário que o professor seja formado de forma adequada, e reconheça a sua atuação.
                Tradicionalmente, a escola exerce seu papel considerando apenas as dimensões cognitivas do indivíduo, predominando a concepção dualista do ser humano, enfatizando a razão, e sendo a emoção muitas vezes considerada responsável por ações inadequadas. A teoria walloniana, quando se fundamenta no estudo da pessoa inteira, vem de encontro a tudo isso, pois aborda a concepção do ser humano de acordo com a concepção monista, assim, afetividade e cognição se unem, sendo a primeira tão importante para o desenvolvimento do individuo, quanto a segunda.
                A afetividade, estudada por Wallon e também por Vygotsky, representa papel importante, portanto, no processo de ensino, e acredito que deva ser levado ainda mais adiante seu estudo, pois penso que a educação como um todo, muito pode ganhar com a compreensão dessa questão em sala de aula. Importante lembrar que, os dois autores deixam claro que tratam do caráter social da afetividade, e que esta vai muito além do significado que a palavra adquiriu no senso comum. Assim, um professor age com afeto, mesmo sem saber, e interfere no campo emocional e afetivo dos alunos, mesmo quando não pensa que isto está acontecendo. Isso se dá justamente pelo fato de que a afetividade aqui tratada ultrapassa a ideia de carinho, ou bondade por parte do professor, mas faz referência ao tratamento do aluno como pessoa inteira, levando em consideração, portanto não somente suas facilidades e dificuldades cognitivas, mas também questões emocionais, como a auto estima que este adquire na escola, confiança em si e no professor, e consequentemente o respeito que passa a existir, ou não.

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