quinta-feira, 14 de junho de 2012

Análise Crítica: Vigotski e Wallon



Análise Crítica: Vigotski e Wallon

Tamires Lemos de Assis
Letras - 122187


      Nesta breve análise crítica relacionada à psicologia e educação, abordarei os principais conceitos dos autores Lev S. Vigotski e Henri P. H. Wallon, bem como suas respectivas implicações e contribuições na e para a sociedade, sendo estas de suma importância. Uma vez que há um leque de textos e obras que discorrem não só sobre a vida destes autores mas sobre suas ideias, teorias e teses, é necessário que se faça um recorte, ou seja, que se selecione os temas mais relevantes para elaborar uma análise mais condensada, porém, rica em informações que passem tanto para um leitor modelo, quanto para um leitor leigo, os principais pontos propostos por Vigotski e Wallon. A análise será, praticamente, meu ponto de vista e releitura acerca de tudo que vimos em sala de aula(textos, discussões, vídeos e filmes).

      Uma das mais importantes inserções de Vigotski para a psicologia foi relacionar o desenvolvimento das funções psicológicas com o meio social, cultural e econômico de cada indivíduo, possibilitando, assim, seu crescimento e ascensão em meio a sociedade. Para ele, as funções que, primeiramente, eram passivas, passam a ser ativas uma vez que o processo de desenvolvimento mental da criança é contínuo, o que permite essa mudança essencial que marca a aquisição de controle sobre si próprio. Sendo assim, o desenvolvimento línguístico e intelectual da criança se dá na medida em que ela aprende a “falar para si mesma”, ou seja, falar sozinha, interiorizando os diálogos existentes no meio em que está inserida, bem como os seus próprios diálogos internos e pensamentos. A criança ainda não sabe ao certo o que são as coisas do mundo, ela parte de ideias, associações, e estes agrupamentos conceituais acerca de tudo vão se desenvolvendo aos poucos, passando de um turbilhão para um plano mais complexo e característico.

   Somente depois deste primeiro contato é que acontece a separação destes conceitos, a categorização e, por último, o surgimento de conceitos mais tolhidos, mais verdadeiros e definidos, que vão se aproximando dos presentes na idade adulta. Ao entrar em contato com novos conceitos, a criança tem a capacidade de acessar seu esquema mental e restabelecer novas diretrizes para a aquisição destes novos conhecimentos, sem ter a necessidade de modificar ou reestruturar os conceitos anteriormente absorvidos; esta é uma característica da inteligência humana muito útil e eficaz, diferindo, por exemplo, da inteligência dos macacos e chimpanzés. No mundo criado pela criança, ela pode realizar seus desejos e ser a “dona” de seus próprios pensamentos, fazendo com que neste imaginário o brinquedo, por exemplo, ganhe vida, ou até mesmo uma historinha contida em um livro infantil: não há limites para a arte, imaginação e criatividade, a mente vai longe quando se trata de criar e transformar anseios naquilo que traz um certo significado para a criança; parece “certo”.
     Um exemplo interessante deste mundo criado pela criança, é quando ela, mesmo sem ser alfabetizada, pega um livro e começa a “lê-lo”, contando uma história. Ela pode não saber ao certo o que significam aquelas letras, frases e palavras, mas pelas imagens, por exemplo, conseguem se lembrar de uma outra vez em que tiveram contato com aquele livro, ou associar a algo já existente nos seus esquemas mentais e “montar’ um significado novo para aquilo que está vendo. Se ela vê o desenho de uma tartaruga e de um coelho, pode lembrar que alguma vez a professora leu “A Lebre e a Tartaruga”( que conta a história de uma corrida destes dois animais, na qual a lebre conta vantagem por ser mais rápida, porém, dorme esperando a tartaruga, esperta, que passa na frente enquanto a Lebre cochila e acaba vencendo), ou ela pode associar a alguém que tenha um coelho ou tartaruga de estimação, e a partir desta lembrança criar uma história de sua autoria.

         No filme “O Contador de Histórias”, que assistimos em sala de aula para a disciplina Psicologia e Educação, há um exemplo interessante sobre como a criança/adolescente serve-se de sua imaginação para transformar a realidade na qual vive, como Vigostki aborda em seus escritos. Roberto, o protagonista, para fugir(tanto mentalmente quanto fisicamente) das dificuldades encontradas na instituição, as vezes se isola e em outras tenta fazer parte do sistema(falando palavrões, inventando doenças, etc), bem como pula os muros da instituição e fuge com alguns outros internos. Toda essa trama é rica em significação: Roberto que, aos 13 anos, ainda é analfabeto, é considerado como um caso “irrecuperável”, mas a peripécia se dá no momento em que Marguerith, uma pedagoga francesa, se interessa pela história do garoto e se dedica de “corpo e alma” para ajuda-lo, principalmente, a se alfabetizar. Com isso Roberto também aprendeu francês, a lingua materna de Marguerith.

       O relevante do filme para esta análise crítica é que neste contato entre a pedagoga e o garoto, ele pôde ter a aquisição da escrita a partir da mediação: Roberto tinha potencialidade de aprender, mas o processo não poderia ser concluído sem o auxilio de Marguerith,  responsável por “concretizar” os conhecimentos do garoto e alfabetizá-lo. Para Vigotski,  ZDP(zona de desenvolvimento proximal) é a distância entre o “nível de desenvolvimento real” e o “nível de desenvolvimento potencial”, ou seja, é um campo intermediário entre a capacidade de desenvolver um problema sozinho, sem ajuda, e a resolução a partir da intervenção de um adulto ou uma outra pessoa. Esses dois níveis de desenvolvimento estão diariamente em contato com o indivíduo, assim como no filme “O Contador de Histórias”: o primeiro aumenta conforme os processos de aprendizagem forem aumentando, é dinâmico e de resolução autônoma, é real pois condiz com o presente, “o agora”, aquilo que o indivíduo pode fazer por si só; o segundo é uma previsão daquilo que o indivíduo é capaz, do que é possível, as habilidades que tem mas que ainda não estão tolhidas, encontram-se em andamento. Assim, uma vez que o NDP é uma icógnita, pois ainda não se concretizou, a ZDP funciona como um índice, que permite que os processos educativos potenciais ajam de forma sistemática e individualizada, tomando como ponto de partida o desenvolvimento real, passando do que o indivíduo consolidou de forma autônoma para o que consegue resolver com mediações.

        Assim como Vigotski, Wallon é um estudioso da psicologia do desenvolvimento, de visão interacionista, que analisa as mudanças de comportamento ao longo da vida de uma pessoa, atentando-se também as faixas etárias e estabelecendo parâmetros que geralmente as caracterizam. O foco dos seus estudos se concentra mais na infância, onde teoriza acerca do processo de aprendizagem, defendendo que ele é dialético, ou seja, visa a análise da pessoa completa: para Wallon a cognição é importante, porém não mais que a afetividade ou a motricidade. Wallon também discorre sobre a influência do fator orgânico, que segundo ele é primário para se pensar no desenvolvimento do pensamento no indivíduo, mas não deixa de lado a influência do meio. O fatores sociais e fisiológicos  são essenciais para os seus estudos uma vez que para se pensar no psiquismo, o autor se prende a estes, o que é necessário para analisar as características do desenvolvimento humano. Wallon também diz que as potencialidades psicologicas dependem obrigatoriamente do contexto socio-cultural, pois o desenvolvimento das habilidades cognitivas não acontece somente em função do sistema nervoso.

           Wallon fragmenta os alicerces da cognição em quatro, dando a estes o nome de “campos funcionais”: Movimento, Afetividade, Inteligência e Pessoa. O movimento é o primeiro a se desenvolver, sendo a base para o desenvolvimento dos demais, uma vez que tem grande importância na estruturação do pensamento, periodo anterior à aquisição da linguagem. Estes movimentos são divididos em dois: expressivos(gesticular, falar) e instrumentais(andar, pegar objetos, mastigar). A afetividade é a forma com que o indivíduo interage com o meio, assim, as emoções separam a criança do ambiente, e este campo é importante por que são a base da inteligência, que é atrelada ao raciocínio simbólico e a linguagem. Uma vez que a criança se dá conta de onde acaba ela e onde começa o mundo, no que acontece com as pessoas, os objetos quando ela não está por perto, a abstração e o raciocínio simbólico vão se desenvolvendo e se aperfeiçoando, abrindo espaço para as habilidades linguísticas. O ultimo campo, designado como “pessoa”, é aquele que significa o indivíduo e é responsável pelo desenvolvimento da consciência e da identidade do eu. A função primordial deste campo é mediar os demais, pois eventualmente poderão haver conflitos que precisam de uma intervenção para “restabelecer a ordem”, o equilíbrio no sujeito.



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