Vygotsky, Wallon, a Educação e a questão da
Linguagem: análise crítica
Ana Paula Oliveira
RA n.º 116093
O(s) meio(s), a mediação, a afetividade e a
constituição humana, ao meu ver, são os pontos que unem Vygotsky e
Wallon como representantes da perspectiva histórico-cultural. Estes
quatro, por sua vez, apresentam um notável papel na educação: a
partir deles que toda uma pedagogia que visa o “olhar para o outro
em busca da descoberta de suas aptidões e necessidades para a
adequação da didática” pode ser formulada.
Ambos colocam o meio e “o outro” como primordiais
para o desenvolvimento do ser humano, considerando que o indivíduo
nasce como um ser orgânico/biológico e vira um ser
histórico-social, graças à cultura (segundo Vygotsky) ou aos meios
e seus determinados contextos (segundo Wallon) – o que não deixa
de ser uma concepção similar a de Vygotsky. Considerar esses
fatores como cruciais para a educação faz muito sentido, contudo,
continuo achando, como Piaget, que a carga de responsabilidade maior
recai sobre o sujeito. Pois, embora estes pensadores da perspectiva
sócio-histórica tratem da figura ativa do sujeito em suas teorias,
a carga de responsabilidade acaba recaindo muito mais sobre o
mediador, já que, na visão psicopedagógica, não existe alguém
que seja menos capaz e sim, erros decorrentes da mediação.
O desejo de uma sociedade que dê possibilidades aos
“excluídos” é uma verdade presente tanto no pensamento
vigotskiano como no walloniano. A escola, como detentora dos
“representantes” da Cultura1,
pode trazer a solução para o desenvolvimento dos alunos, e quanto
mais a escola lidar com a diversidade nas salas de aula, mais ela
ganhará a nível cultural. Não duvido que esta visão seja
positiva, entretanto não é uma das mais fáceis de ser conduzida.
Na teoria, tudo é muito aprazível e simples, mas, na prática,
saber lidar com um grupo muito heterogêneo não é uma proeza que
muitos professores conseguem concluir com êxito.
Quanto à afetividade e a constituição humana, a
figura da “pessoa completa” de Wallon, dotada dos três campos
funcionais indissociáveis: afetividade, cognição/inteligência e
ato motor, ao meu ver, é visionária e tem tudo a ver com a
educação. Tanto ele como Vygotsky dizem que a Razão não deve ser
separada da Emoção. O bom mediador não realiza a cisão que a
Educação Brasileira faz, ao se concentrar somente em um dos fatores
primordiais para o desenvolvimento: a cognição. Por isso, é
visionária, já que questiona o sistema vigente e propõe uma
releitura de como tratar uma criança: como um ser completo.
Agora, voltando um pouco mais para a teoria vygotskiana, gostaria de
expor alguns apontamentos, principalmente em relação ao campo da
linguagem e do pensamento. O que veio primeiro? Para Vygotsky, “O
pensamento não é simplesmente expresso em palavras; é por meio
delas que ele passa a existir”. Porém,
como estudante de Letras, tenho uma crítica a fazer a esta noção.
Acredito sim, que a linguagem venha antes do pensamento, contudo, não
do jeito como Vygotsky expõe o seu conceito de linguagem,
confundindo-o com o conceito de Língua. Isto porque a linguagem já
se apresenta tão logo quando o bebê nasce: através do choro.
Todavia, mais adiante em sua obra, Vygotsky se retrata e diz que
linguagem e pensamento têm origens diversas e se desenvolvem em
trajetórias diferentes e independentes, embora estas venham a se
cruzarem às vezes (Vygotsky, 1991 : 51 e 54). Neste quesito,
discordo novamente, pois considero que a inteligência, vamos dizer,
bagagem genética, vem primeiro, depois a linguagem, depois o
pensamento. O que explica esse raciocínio é o fato de que, no
começo, o bebê age por instinto, não pensa, conforme a menção
que o próprio Vygotsky faz sobre a pesquisa de Yerkes, que traz a
conclusão de que o nível de “ideação” - imagens ou estímulos
residuais - dos orangotangos se assemelha a de uma criança até os
três anos de idade. (ibidem, p. 44).
Com respeito ao
processo de interiorização da fala (um
dos tipos de linguagem que ajuda no desenvolvimento do pensamento),
sou adepta da ideia vygotskiana de que a fala exterior, para ser
interiorizada, passa pela fala egocêntrica. Isto
faz muito mais sentido que a visão piagetiana que outorga à fala o
seguinte processo de apropriação: da lalação, ela passa para a
fala egocêntrica e depois se transforma na fala socializada. Porque
a criança apreende a fala conforme o meio em que vive, isto vem
explicar as diferenças internas que temos na Língua Portuguesa
Brasileira falada, por exemplo, seus sotaques, suas gírias, os
diferentes léxicos atribuídos a diferentes classes sociais, sexo,
regiões etc. Se o processo fosse de “dentro” para “fora”,
não haveria uma explicação convincente para estas constatações.
Referências:
- LEITE, S. A. S. (Org.) Afetividade e práticas pedagógicas. 1ª Ed. SP: Casa do Psicólogo, 2006 (p. 15-43).
- MAHONEY, A.A.; ALMEIDA, L.R. (Org.). Henri Wallon: Psicologia e Educação. 3ª. Ed. SP: Loyola, 2003. (p. 71-86).
- SAWAIA, B. B. Psicologia e Desigualdade Social: uma reflexão sobre liberdade e transformação social. Postado em: <http://www.scielo.br/pdf/psoc/v21n3/a10v21n3.pdf > Acessado em: 07/06/2012.
- VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 3ª Ed. SP: Martins Fontes, 1991. (p. 11-29 e 42-63).
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1Conforme
Almeida, L. R. Wallon e a Educação, p. 80 e 81, do livro
Henri Wallon: Psicologia e Educação, citado na
Bibliografia.
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