quinta-feira, 14 de junho de 2012

Módulo “Perspectiva histórico-cultural: contribuições de Vygotsky e Wallon”


Vygotsky, Wallon, a Educação e a questão da Linguagem: análise crítica
Ana Paula Oliveira
RA n.º 116093

O(s) meio(s), a mediação, a afetividade e a constituição humana, ao meu ver, são os pontos que unem Vygotsky e Wallon como representantes da perspectiva histórico-cultural. Estes quatro, por sua vez, apresentam um notável papel na educação: a partir deles que toda uma pedagogia que visa o “olhar para o outro em busca da descoberta de suas aptidões e necessidades para a adequação da didática” pode ser formulada.
Ambos colocam o meio e “o outro” como primordiais para o desenvolvimento do ser humano, considerando que o indivíduo nasce como um ser orgânico/biológico e vira um ser histórico-social, graças à cultura (segundo Vygotsky) ou aos meios e seus determinados contextos (segundo Wallon) – o que não deixa de ser uma concepção similar a de Vygotsky. Considerar esses fatores como cruciais para a educação faz muito sentido, contudo, continuo achando, como Piaget, que a carga de responsabilidade maior recai sobre o sujeito. Pois, embora estes pensadores da perspectiva sócio-histórica tratem da figura ativa do sujeito em suas teorias, a carga de responsabilidade acaba recaindo muito mais sobre o mediador, já que, na visão psicopedagógica, não existe alguém que seja menos capaz e sim, erros decorrentes da mediação.
O desejo de uma sociedade que dê possibilidades aos “excluídos” é uma verdade presente tanto no pensamento vigotskiano como no walloniano. A escola, como detentora dos “representantes” da Cultura1, pode trazer a solução para o desenvolvimento dos alunos, e quanto mais a escola lidar com a diversidade nas salas de aula, mais ela ganhará a nível cultural. Não duvido que esta visão seja positiva, entretanto não é uma das mais fáceis de ser conduzida. Na teoria, tudo é muito aprazível e simples, mas, na prática, saber lidar com um grupo muito heterogêneo não é uma proeza que muitos professores conseguem concluir com êxito.
Quanto à afetividade e a constituição humana, a figura da “pessoa completa” de Wallon, dotada dos três campos funcionais indissociáveis: afetividade, cognição/inteligência e ato motor, ao meu ver, é visionária e tem tudo a ver com a educação. Tanto ele como Vygotsky dizem que a Razão não deve ser separada da Emoção. O bom mediador não realiza a cisão que a Educação Brasileira faz, ao se concentrar somente em um dos fatores primordiais para o desenvolvimento: a cognição. Por isso, é visionária, já que questiona o sistema vigente e propõe uma releitura de como tratar uma criança: como um ser completo.
Agora, voltando um pouco mais para a teoria vygotskiana, gostaria de expor alguns apontamentos, principalmente em relação ao campo da linguagem e do pensamento. O que veio primeiro? Para Vygotsky, “O pensamento não é simplesmente expresso em palavras; é por meio delas que ele passa a existir”. Porém, como estudante de Letras, tenho uma crítica a fazer a esta noção. Acredito sim, que a linguagem venha antes do pensamento, contudo, não do jeito como Vygotsky expõe o seu conceito de linguagem, confundindo-o com o conceito de Língua. Isto porque a linguagem já se apresenta tão logo quando o bebê nasce: através do choro. Todavia, mais adiante em sua obra, Vygotsky se retrata e diz que linguagem e pensamento têm origens diversas e se desenvolvem em trajetórias diferentes e independentes, embora estas venham a se cruzarem às vezes (Vygotsky, 1991 : 51 e 54). Neste quesito, discordo novamente, pois considero que a inteligência, vamos dizer, bagagem genética, vem primeiro, depois a linguagem, depois o pensamento. O que explica esse raciocínio é o fato de que, no começo, o bebê age por instinto, não pensa, conforme a menção que o próprio Vygotsky faz sobre a pesquisa de Yerkes, que traz a conclusão de que o nível de “ideação” - imagens ou estímulos residuais - dos orangotangos se assemelha a de uma criança até os três anos de idade. (ibidem, p. 44).
Com respeito ao processo de interiorização da fala (um dos tipos de linguagem que ajuda no desenvolvimento do pensamento), sou adepta da ideia vygotskiana de que a fala exterior, para ser interiorizada, passa pela fala egocêntrica. Isto faz muito mais sentido que a visão piagetiana que outorga à fala o seguinte processo de apropriação: da lalação, ela passa para a fala egocêntrica e depois se transforma na fala socializada. Porque a criança apreende a fala conforme o meio em que vive, isto vem explicar as diferenças internas que temos na Língua Portuguesa Brasileira falada, por exemplo, seus sotaques, suas gírias, os diferentes léxicos atribuídos a diferentes classes sociais, sexo, regiões etc. Se o processo fosse de “dentro” para “fora”, não haveria uma explicação convincente para estas constatações.

Referências:
  • LEITE, S. A. S. (Org.) Afetividade e práticas pedagógicas. 1ª Ed. SP: Casa do Psicólogo, 2006 (p. 15-43).
  • MAHONEY, A.A.; ALMEIDA, L.R. (Org.). Henri Wallon: Psicologia e Educação. 3ª. Ed. SP: Loyola, 2003. (p. 71-86).
  • SAWAIA, B. B. Psicologia e Desigualdade Social: uma reflexão sobre liberdade e transformação social. Postado em: <http://www.scielo.br/pdf/psoc/v21n3/a10v21n3.pdf > Acessado em: 07/06/2012.
  • VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 3ª Ed. SP: Martins Fontes, 1991. (p. 11-29 e 42-63).
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1Conforme Almeida, L. R. Wallon e a Educação, p. 80 e 81, do livro Henri Wallon: Psicologia e Educação, citado na Bibliografia.

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