sexta-feira, 15 de junho de 2012

Análise: Vygotsky e Wallon


Fabrício E. P. Miranda           RA 104873

A forma com o qual aprendemos e nos desenvolvemos e a importância do pensamento e linguagem ao longo das nossas vidas são interrogações que já foram estudadas de diferentes perspectivas e por diferentes mentes. Antes tivemos a chance de entender a forma com o qual Piaget analisou estas questões e as conclusões a que chegara. De forma aqui bastante simplificada, percebemos que para ele o desenvolvimento do individuo poderia ser caracterizado por fases e que alguns dos fatores internos ao individuo delimitavam este desenvolvimento, ainda que ressaltasse a importância da interação entre meio/individuo.
Seguindo uma linha de pensamento similar, porém com características diferentes, Lev Vygotsky também se atentou a essas questões. Este era russo nascido no fim do século XIX, segundo filho de uma família judia em uma Rússia czarista e desconfiada de judeus. Provavelmente por este cenário, Vygotsky passou um bom tempo fazendo os seus estudos com o foco nos segregados socialmente, como as crianças com deficiências. Para ele, as relações interpessoais são fundamentais para que ocorra o desenvolvimento, portanto, a linguagem desempenha um papel primordial neste processo, assim como o pensamento, ou seja, a capacidade de entender valores e elaborar uma forma de comunicar estes valores com o outro, independente de qual seja esta forma de se comunicar, como escrita, falada ou gestual. Como exemplo, podemos citar uma criança surda que se possui a ajuda de alguém que saiba se comunicar com ela, digamos por gestos, possui uma facilidade maior em aprender do que outra criança surda sem ninguém que possa entendê-la.
Além desta conclusão, Vygotsky sugere que é possível caracterizar o nível de desenvolvimento do individuo através dois atributos. O conhecimento real representa tudo àquilo que o individuo é capaz de realizar por conta própria, enquanto que conhecimento potencial representa as funções que o indivíduo realiza com alguma mediação, ou seja, aquilo que este individuo não é capaz de fazer sozinho, mas que com ajuda é realizado. A distância entre o conhecimento real e o conhecimento potencial do individuo caracteriza a Zona (Nível) de Desenvolvimento Proximal (ZDP ou NDP) do mesmo.
Esta caracterização que é utilizada para classificar o nível de desenvolvimento é um dos principais fatores que distanciam Vygotsky do Piaget, visto que a classificação dele sugere infinitas e distintas fases de desenvolvimento enquanto que para Piaget as fases eram bem definidas. Diga-se de passagem, em tempos atuais a abordagem do russo faz mais sentido, já que é muito improvável encontrarmos crianças cujo desenvolvimento se enquadre nas fases descritas pelo suíço.
Portanto, sob a ótica do Vygotsky, é natural que o papel do professor no aprendizado do aluno é a de ser um mediador, buscando identificar as dificuldades do mesmo, para então instigá-lo a se desenvolver. Mais do que isso, motivá-lo a se desenvolver, visto que Vygotsky afirma a importância das emoções, da motivação, neste processo. Cabe ainda uma observação. Sob esta ótica, se um aluno tem dificuldade no aprendizado, a culpa não é apenas atribuída ao aluno, mas principalmente ao seu mediador, pois a dificuldade implica uma mediação fraca ou falha, o que é muito interessante de se notar, principalmente se compararmos a ótica de Piaget.
Pessoalmente, acredito que as conclusões de Vygotsky me parecem muito mais interessantes e condizentes com os dias atuais do que as feitas pelo Piaget. Porém, olhando principalmente para o sistema público de educação no Brasil, existem fatores que complicam a adoção dessas conclusões na prática do ensino, por exemplo, o excesso de alunos em uma mesma sala, o que dificulta a capacidade de caracterizar o nível de desenvolvimento de cada aluno. Ainda assim, é um trabalho interessante em que é possível extrair muita informação útil para a formação de educadores e professores, prezando principalmente pelas relações interpessoais formadas em sala de aula.



Bibliografia:
Vygotsky: uma síntese (Ed. Loyola);
       
SAWAIA,B.B. Psicologia e desigualdade social: Uma reflexão sobre liberdade e transformação social. PUC-SP 2010.

VYGOTSKY, Lev S.; As raízes genéticas do pensamento e da linguagem in: Pensamento e Linguagem; São Paulo: Martins Fontes, 1998.

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