Fabrício
E. P. Miranda RA 104873
A
forma com o qual aprendemos e nos desenvolvemos e a importância do pensamento e
linguagem ao longo das nossas vidas são interrogações que já foram estudadas de
diferentes perspectivas e por diferentes mentes. Antes tivemos a chance de
entender a forma com o qual Piaget analisou estas questões e as conclusões a
que chegara. De forma aqui bastante simplificada, percebemos que para ele o
desenvolvimento do individuo poderia ser caracterizado por fases e que alguns
dos fatores internos ao individuo delimitavam este desenvolvimento, ainda que
ressaltasse a importância da interação entre meio/individuo.
Seguindo
uma linha de pensamento similar, porém com características diferentes, Lev Vygotsky
também se atentou a essas questões. Este era russo nascido no fim do século XIX,
segundo filho de uma família judia em uma Rússia czarista e desconfiada de
judeus. Provavelmente por este cenário, Vygotsky passou um bom tempo fazendo os
seus estudos com o foco nos segregados socialmente, como as crianças com deficiências.
Para ele, as relações interpessoais são fundamentais para que ocorra o
desenvolvimento, portanto, a linguagem desempenha um papel primordial neste
processo, assim como o pensamento, ou seja, a capacidade de entender valores e
elaborar uma forma de comunicar estes valores com o outro, independente de qual
seja esta forma de se comunicar, como escrita, falada ou gestual. Como exemplo,
podemos citar uma criança surda que se possui a ajuda de alguém que saiba se
comunicar com ela, digamos por gestos, possui uma facilidade maior em aprender
do que outra criança surda sem ninguém que possa entendê-la.
Além
desta conclusão, Vygotsky sugere que é possível caracterizar o nível de
desenvolvimento do individuo através dois atributos. O conhecimento real representa
tudo àquilo que o individuo é capaz de realizar por conta própria, enquanto que
conhecimento potencial representa as funções que o indivíduo realiza com alguma
mediação, ou seja, aquilo que este individuo não é capaz de fazer sozinho, mas
que com ajuda é realizado. A distância entre o conhecimento real e o
conhecimento potencial do individuo caracteriza a Zona (Nível) de
Desenvolvimento Proximal (ZDP ou NDP) do mesmo.
Esta
caracterização que é utilizada para classificar o nível de desenvolvimento é um
dos principais fatores que distanciam Vygotsky do Piaget, visto que a
classificação dele sugere infinitas e distintas fases de desenvolvimento
enquanto que para Piaget as fases eram bem definidas. Diga-se de passagem, em
tempos atuais a abordagem do russo faz mais sentido, já que é muito improvável
encontrarmos crianças cujo desenvolvimento se enquadre nas fases descritas pelo
suíço.
Portanto,
sob a ótica do Vygotsky, é natural que o papel do professor no aprendizado do
aluno é a de ser um mediador, buscando identificar as dificuldades do mesmo,
para então instigá-lo a se desenvolver. Mais do que isso, motivá-lo a se
desenvolver, visto que Vygotsky afirma a importância das emoções, da motivação,
neste processo. Cabe ainda uma observação. Sob esta ótica, se um aluno tem
dificuldade no aprendizado, a culpa não é apenas atribuída ao aluno, mas principalmente
ao seu mediador, pois a dificuldade implica uma mediação fraca ou falha, o que
é muito interessante de se notar, principalmente se compararmos a ótica de
Piaget.
Pessoalmente,
acredito que as conclusões de Vygotsky me parecem muito mais interessantes e
condizentes com os dias atuais do que as feitas pelo Piaget. Porém, olhando
principalmente para o sistema público de educação no Brasil, existem fatores
que complicam a adoção dessas conclusões na prática do ensino, por exemplo, o
excesso de alunos em uma mesma sala, o que dificulta a capacidade de
caracterizar o nível de desenvolvimento de cada aluno. Ainda assim, é um
trabalho interessante em que é possível extrair muita informação útil para a
formação de educadores e professores, prezando principalmente pelas relações interpessoais
formadas em sala de aula.
Bibliografia:
Vygotsky:
uma síntese (Ed. Loyola);
SAWAIA,B.B.
Psicologia e desigualdade social: Uma reflexão sobre liberdade e transformação
social. PUC-SP 2010.
VYGOTSKY,
Lev S.; As raízes genéticas do pensamento e da linguagem in: Pensamento e
Linguagem; São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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