Alunas: Liriam Samejima
Teixeira RA: 103084
Luciene Silva dos Santos
094086
Flaviane Alves dos
Santos
060894
1) Introdução
Foi realizada uma
pesquisa, tomando-se como base a perspectiva histórico-cultural do cotidiano
escolar de alunos de diferentes cursinhos preparatórios para o vestibular:
cursinho comunitário e particular. O cursinho comunitário pesquisado se trata
do CASD Vestibulares, Curso Alberto Santos Dumont, de São José dos Campos/SP.
Nosso objetivo é
discutir o papel da motivação desses alunos no contexto de ingressar
na faculdade.
Os fatores que
conduzem a motivação são bem diversificados em cada aluno principalmente quando
confrontamos alunos de cursinhos particulares com alunos de cursinhos
comunitários, devido as diferentes classes sociais. A família, os amigos,
professores, a escola podem influenciar nessa motivação positiva ou
negativamente. Assim, o papel do mediador é essencial.
2) Descrição do Trabalho Prático nos
Cursinhos
2.1) Cursinho
Particular
Entrevistou-se um
grupo pequeno de alunos com idades entre 18 e 23 anos e uma professora em um
cursinho particular da cidade de Campinas. Como resultado, viu-se o grande
apoio que esses alunos recebem dos pais e a importância dos professores como
mediadores, auxiliando-os a ingressarem na Faculdade. Esses são os
fatores motivadores. Todavia, não há relação afetiva tão intensa entre alunos e
professores.
2.2) CASD
(Cursinho Comunitário)
O CASD vestibulares é um cursinho
sem fins lucrativo criado e mantido por alunos do ITA - Instituto Tecnológico
de Aeronáutica, que trabalham há mais de 10 anos em prol de jovens e adultos. É
voltado para o atendimento de alunos da camada menos privilegiada da sociedade,
dando-os a oportunidade de ingresso no ensino superior, culminando na ascensão
social efetiva. Seus alunos são selecionados por meio de um processo seletivo
realizado anualmente. Nesse processo seletivo, o candidato passa por duas
fases: uma prova de conhecimentos gerais e uma rigorosa entrevista
sócio-econômica que avalia a condição financeira do candidato, garantindo que
todas as vagas oferecidas pelo curso sejam efetivamente destinadas a alunos de
baixa renda. Basicamente, o objetivo é selecionar os alunos mais carentes e
mais dedicados para o curso.
O CASD
Vestibulares tem um grande diferencial dos demais cursinhos comunitários na
questão de trabalhar com a afetividade dos alunos motivando-os o
desenvolvimento deste vínculo afetivo se dá por meio de socializações entre
professor-aluno por meios de aulas diferenciadas e interativas, onde o
professor sempre está chamando atenção dos seus alunos, por meio de eventos
como churrasco, viradão de estudos, eventos de premiações de melhores alunos
nos simulados, e também, no apadrinhamento onde os professores acompanham os
alunos que tenham alguma dificuldade, seja problemas de aprendizagem,
familiares, financeiros, amorosos, ou qualquer outra coisa que possa desmotivar
o aluno. Percebe-se que esta forte relação aluno-professor influencia na
formação da autoestima, tanto para o aluno que quer apreender quanto para o
professor que ao entrar em um contato direto com seus alunos os torna mais
apaixonados pela profissão e torna-se cada vez mais comprometido e com mais
amor pelo trabalho. Ou seja, ambos se motivam com amor no próximo e isso faz
perpetuar o conhecimento e a vontade de também poder ajudar o próximo com o
conhecimento adquirido, formando assim um círculo vicioso que professores e
alunos levarão em diante não apenas no período de cursinho. E isso eles chamam
de “Família CasDvest”
3) Um pouco de teoria
A motivação e a afetividade trabalham juntas e contribuem
efetivamente no processo de ensino e aprendizagem desde a infância do
indivíduo. Pode-se concluir que alunos que são motivados por seus professores e
pais conseguem desenvolver facilmente suas aptidões e seu raciocínio. A partir
desse ponto podemos entender qual a razão do cursinho CASD aprovar alunos, que
tiveram um ensino médio bastante defasado, em vestibulares nacionais tão
concorridos.
A motivação,
quando estimulada, pode atuar acelerando o raciocínio e na capacidade do aluno
expor suas ideias.
Segundo Vygotsky,
Jean Piaget, Henry Wallon entre outros, existe a necessidade do reconhecimento
de que a afetividade possui um caráter de ação volitiva[1] afetividade pode influenciar no
comporto e evolução do aluno.
A motivação leva o
aluno a acreditar em seu potencial de construção do aprendizado, nesse sentido,
entra o papel do professor que, quando motiva o aluno, leva o mesmo a encontrar
nele o mecanismo que impulsiona seu crescimento e para desenvolver suas
habilidades, despertando, assim, sua inteligência cognitiva, causando um
resultado positivo no processo de ensino-aprendizagem. O resultado prático
dessas afirmações pode ser visto na apresentação da metodologia de ensino do
CASD vestibulares, que além de motivar alunos que ingressam com uma base muito
fraca de aprendizagem no cursinho, também trabalham a afetividade, conseguindo,
dessa forma, com que motivação e afetividade possam, juntas, fazer com que
esses alunos, atinjam resultados tão bons ou até melhores que alunos que
obtiveram melhores recursos durante o ensino médio.
Ao contrário
disso, podemos ver que alunos que submetidos ao menosprezo por parte do
educador, têm uma forte tendência a ter apatia pelo professor e ter atitudes
indisciplinadas em sala de aula. Esses são comportamentos oriundos da falta de
motivação e recursos sócio afetivos, por parte dos professores.
Vygotsky
acreditava que o desenvolvimento era um processo evolutivo e que funções como a
atenção, pensamento e memória se davam através da interação da criança com
outros. A partir daí surge o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, que
é a distância entre o
desenvolvimento real (aquele que torna o indivíduo capaz de enfrentar situações
aplicando seu conhecimento de maneira autônoma) e o desenvolvimento potencial
(aquele que o indivíduo possui, mas que encontra-se em processo). Resumindo, a
ZDP seria tudo o que a criança pode adquirir com ajuda de um suporte
educacional, é aquela em que a criança inicia seu aprendizado mantendo-se
relação com outro. Com esse conceito e relacionando ao tema motivação, é possível
intuir que se o professor transmitir conhecimentos que estão muito acima dos
conhecimentos reais do aluno, provavelmente, tem-se uma forte tendência de
incompreensão e consequentemente desinteresse por parte do aluno, gerado por
uma desmotivação.
Ao contrário, se a transmissão de conhecimento se dá abaixo da ZDP do
aluno, ou seja, se os assuntos transmitidos são ideias que o aluno já tem um
certo domínio, pode-se pensar que o seu desenvolvimento pode gerar, em um
diálogo entre aluno e professor, uma forma do aluno transmitir, também, algum
conhecimento seu ao professor, longe de ser desmotivador, havendo uma troca de
conhecimentos entre ambos.
Podemos conceituar
também, as motivações intrínseca e extrínseca, conceitos muito ressaltados pela
psicologia. Na teoria vygotskiana, como ensino e aprendizagem fazem parte de um
processo comum, a motivação está presente. Ela é um movimento dialético (a intrínseca
depende da extrínseca e vice-versa).Podemos raciocinar da seguinte forma: a
motivação humana é observada desde muito pouca idade sob diversas formas. Por
exemplo, o bebê que busca a satisfação de sua fome e o aconchego de um colo,
ele mostra possuir motivação de sobra, através de seu instinto e necessidades
fisiológicas, para conseguir o que precisa, e que lhe cobra a nutrição e os
afetos. Nota-se que a motivação é algo que é instintivo e que já nasce junto
com o ser humano. Temos aí uma motivação intrínseca.
A motivação intrínseca é fundamental porque é a partir dela que se
desenvolve todo o processo de aprendizagem. O aluno precisa estar motivado a
aprender, mas não necessariamente os motivos sejam, de fato, o aprender.
A motivação
extrínseca tem sido definida como a motivação para trabalhar em resposta a algo
externo à tarefa ou atividade, como para a obtenção de recompensas materiais ou
sociais, de reconhecimento, objetivando atender aos comandos ou pressões de
outras pessoas ou para demonstrar competências ou habilidades[5].O professor
exerce um papel importante na motivação extrínseca, pois ele pode produzir uma
aula que manifesta interesse nos alunos. Além disso, é importante destacar que
o professor, sendo um mediador, é essencial para desenvolver as potencialidades
dos alunos e não deixar que tais potencialidades padeçam. O texto da Bader Burihan Sawaia discute o papel das
emoções nas relações, a partir de Vygotski e Espinosa: “a desigualdade social
se caracteriza por ameaça permanente à existência. Ela cerceia a experiência, a
mobilidade, a vontade e impõe diferentes formas de humilhação. Essa
depauperação permanente produz intenso sofrimento, uma tristeza que se
cristaliza em um estado de paixão crônico na vida cotidiana, que se reproduz no
corpo memorioso de geração a geração. Bloqueia o poder do corpo de afetar e ser
afetado, rompendo os nexos entre mente e corpo, entre as funções psicológicas
superiores e a sociedade... assim, imobilizada, nossa potência só pode reagir e
não agir”, torna-se potência de padecimento, reduzindo nosso esforço de
perseverar na própria existência ao sobrevivencialismo negador da vida.” [6] . O CasdVest trabalha justamente de modo
a desenvolver as potencialidades de seus alunos, motivando-os de forma afetiva
e quebrando o ciclo de pobreza. Seus alunos enxergam suas próprias capacidades
por meio dos professores que os instigam a acreditarem no próprio potencial,
apesar das dificuldades.
Portanto, o papel
do mediador é de grande interesse para nosso estudo a cerca da motivação. Os
alunos se sentem motivados a alcançarem seus objetivos pessoais, muitas vezes,
pelo incentivo não só cognitivo, mas também psicológico por parte de seus
professores e colegas (mediadores). Podemos dizer o seguinte: Piaget diz que é
nas vivências que o indivíduo (criança) realiza com outras pessoas, que ele
supera a fase do egocentrismo, constrói a noção do eu e do outro como
referência[3]. Nesse sentido, entra o conceito de afetividade que é
considerada a energia que move as ações humanas, ou seja, sem afetividade não
há interesse nem motivação.
Vygotsky, por sua
vez, afirma que o ser humano se constrói nas suas relações de trocas com o
outro e que é a qualidade dessas experiências interpessoais e de relacionamento
que determinam o seu desenvolvimento, inclusive afetivo, enquanto Wallon
sustenta que, “no início da vida, afetividade e inteligência estão
sincreticamente misturadas, com predomínio da primeira”[4].
O ambiente de
aprendizado em um cursinho deveria proporcionar algum grau de “afetividade” e
motivação ao interagir com o aluno.
A interação social
também influencia a afetividade, interatividade e aprendizagem como um todo. No
momento em que os alunos adquirem confiança e consideração por seus professores
e colegas, as relações interpessoais começam a se formar. Dessa forma,
inicia-se um processo de motivação extrínseca, e os alunos vão interagir entre
si no momento dos estudos coletivos, onde vão socializar seus conhecimentos,
pelo menos é o que se observa no cursinho comunitário CASD[2].
Na concepção de Vygotsky, a postura do
professor deixa de ser a de um provedor de informações para ser a de um
gerenciador de entendimento. Toda a conduta e a habilidade do professor estão
centradas na capacidade de motivação, interesse e apoio aos alunos, bem como na
preparação do ambiente e na organização dos materiais[2]. Dessa
forma, os alunos deixam de ser receptores passivos de informações e passam a
ser construtores e socializadores de conhecimento.
4) Conclusão
Podemos desta
forma, concluir a importância da motivação dentro do processo de aprendizado do
aluno e a relação estabelecida entre a inteligência e o desenvolvimento de
capacidades e habilidades.
Ressalta-se também
a importância do mediador que tem papel fundamental na motivação dos alunos.
Como pode-se observar, o CASD contem um grupo de professores altamente
motivador e capacitado, além de trabalharem com a afetividade nos alunos.
Buscando possíveis
aplicações da teoria de Vygotsky nos ambientes de uma sala de cursinho, pode-se
analisar alguns elementos[2]:
- O papel da mediação aluno-aluno;
aluno-professor;
- O papel do aluno visto como agente de
interação social;
- A ZDP, espaço entre crescimento
espontâneo e mediado por especialistas;
- O pensamento e o comportamento que vêm
do meio social.
A afetividade,
nesse contexto, se mostra bastante importante, uma vez que os alunos adquirem
confiança e consideração por seus professores e colegas, inicia-se um processo
de motivação, que impulsiona os mesmos a atingirem seus objetivos, vencendo
todas as dificuldades que lhe são impostas, vencendo até mesmo falta de apoio
dos pais, falta de dinheiro e, muitas vezes, tendo que trabalhar no outro
período.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
[1] LA
TAILLE, Yves de. – Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em
discussão / Yves de La Taille, Martha Kohl de Oliveira, Heloysa Dantas. – São
Paulo: Summos, 1992.
[2] ANDRADE, Adja
Ferreira -Construindo um ambiente de aprendizagem a distância inspirado na
concepção sociointeracionista de Vygotsky.
[3] OLIVEIRA. M.
K. de. O Problema da afetividade em Vygotsky. In:
LA TAILLE, Y.
Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo:
Summus, 1992.
[4] LA TAILLE, Y.
Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo:
Summus, 1992.
[5]
BORUCHOVITCH, E.; BZUNECK, J. A. (orgs.). A motivação do
aluno: contribuições da psicologia contemporânea. 3. ed. Petrópolis:
Vozes, 2001.
[6] SAWAIA, Bader
Burihan: Psicologia e desigualdade social: uma reflexão sobre liberdade e
transformação social. Psicologia & Sociedade (2009).
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