Breve Introdução
"Toda criança é
artista. O problema é como permanecer artista depois de crescer".
Picasso
Sexta-
feira construtiva. Esse é o nome que foi escolhido para o nosso blog, mas que
na prática não funciona apenas com as sextas-feiras. A cada nova aula, a cada
novo autor aprendido, a cada novo tema abordado e discutido nós, enquanto
pessoas e profissionais, íamos construindo e reconstruindo nossos pensamentos,
e inclusive nossas posturas, para pensarmos tudo que as teorias nos
proporcionaram, e para tentar pensar essas teorias na prática.
Jean
Piaget foi o primeiro autor aprendido, nossa primeira surpresa. Com ele
aprendemos alguns pontos teóricos importantes, entre eles que as crianças
possuem um egocentrismo, que é natural delas, pois o egocentrismo só funciona
se for inconsciente na criança. Ela espelha suas vontades e seus desejos para
os outros, não entendo que às vezes a brincadeira que ela quer, ou o desenho
que ela quer, e tantas outras atividades, não é as mesmas que seus alunos
querem. Outro ponto visto é, por exemplo, a questão da afetividade na questão
da obediência da criança. Piaget vai nos dizer que a criança ou respeitará
alguém por medo, ou por amor.
O
segundo autor estudado é Lev Vygotsky. Dentre vários pontos em sua teoria,
gostaríamos de destacar que uma das principais diferenças em relação à teoria
de Piaget, e uma das partes mais importantes de sua obra é a ideia de que o
pensamento e linguagem caminham do social para o individual (enquanto Piaget
acredita que caminha do individual para o social). As crianças aprendem,
assimilam porque antes elas veem alguém fazendo, porque elas observaram até
conseguirem imitar os gestos das pessoas. Ela brinca, ela imita e ela fala
porque ela está tentando imitar alguém. E assim o movimento desse aprendizado é
realmente do social para o individual. Vygotsky vai tocar também na importância
da imaginação para a criança. Ele vai nos dizer que a imaginação é uma
característica exclusivamente humana, sendo então para nós uma espécie de
privilégio.
A
imaginação para a criança é tão importante, porque é nesse mundo que ela vai
reproduzir e começar a criar a partir do universo que ela vive, das pessoas ao
seu redor, da cultura do seu país ou região, dos livros que ela já leu ou que
leram pra ela, das aulas que teve, enfim, de toda sua vivência até aquele
momento da brincadeira. Imaginar faz a criança dar um salto em seu
desenvolvimento e permite que ela crie novas ideias a partir de tudo que ela
está vivendo. Ao permitir que a criança crie estamos sim trabalhando em sua
zona de desenvolvimento proximal (ZDP), pois alguém à ajuda a ter com o que
imaginar, e a partir dai começar a criar soltar, a dar voos cada vez mais
altos, ora com alguém a segurando como uma pipa, ora com suas próprias asas.
O
último autor estudado foi Henri Wallon, e sobre ele o ponto que queremos
destacar é a importância que ele dá para as emoções da criança. Ela, ao chegar a
sua sala de aula, não deixa para o lado de fora da porta tudo que ela é, tudo
que ela vive e principalmente o que ela sente, ela carrega consigo todas essas
emoções, que vem à tona durante os exercícios, durante as brincadeiras com os
amigos, durante o aprendizado, durante as novas experiências que ela está
absorvendo.
Introdução
– Atividade Prática
Para tentar enxergar funcionando na
prática todas as teorias aprendidas, realizamos uma atividade prática em dado
momento do curso – uma atividade de observação. Nosso tema é “Arte,
Criatividade e Imaginação”, e decidimos que olharíamos esse ponto através de uma
das expressões artísticas que nos identificamos, mas que também julgamos ser
fundamental durante o processo de desenvolvimento da criança: o livro. Fomos
então observar como acontece o trabalho coma literatura infantil em sala de
aula, como a professora utiliza os livros, se há atividades anteriores ou
posteriores relacionadas a esse livro, se ela incentiva essa leitura, se as
crianças gostam ou não gostam dos momentos de leituras e outras atividades
relacionados à utilização do livro.
A
visita foi feita em uma escola de educação infantil municipal da cidade de
Campinas, e a turma visitada tinha alunos com média de idade de quatro anos. O
principal autor que nos amparou teoricamente foi Vygotsky, por conta da
importância que ele dá para a imaginação no desenvolvimento da criança.
Nós
assistimos às atividades, e em alguns momentos participamos junto com eles das
brincadeiras realizadas.
Vamos então às nossas experiências.
Atividade
Prática
Contando
histórias
Na
escola em que visitamos, as professoras leem livros para as crianças todos os
dias. Na turma visitada, em especifico, o livro trabalhado no dia era “Tudo bem
ser diferente”, que de uma forma inusitada
trabalhava com as crianças a ideia das diferenças físicas e étnicas, por
exemplo. Uma situação interessante que observamos, é que durante a leitura das
histórias, as crianças, comumente, repetem frases ou palavras contadas pela
professora para as outras crianças, como que para confirmar o que estavam
ouvindo, para uma organização do pensamento, como sugere Piaget. Ele nos mostra
em sua teoria que as crianças têm por hábito externar (?) seus pensamentos,
para organizá-los bem (assim como nós, adultos, quando estamos no trânsito, por
exemplo).
Outro
fato interessante observado durante a leitura, é que as crianças tentam criar
uma espécie de intertexto com a história lida. Elas tentam relacionar as
leituras anteriores, e por vezes até histórias novas, ao que está acontecendo na
história lida pela professora. As crianças vão aos poucos criando uma relação
entre as histórias lidas, uma espécie de ponte que liga uma a outra.
Um
dos exemplos observados, é que na parte em que o livro tratava de nariz grande,
as crianças disseram o número sete. Como não entendemos a associação feita,
perguntamos para a professora, que nos explicou que existe um desenho chamado
“Os Sete Monstrinhos”, e que um desses monstrinhos, que tem nariz grande, é o
número 7.
Durante
a leitura ainda, era possível ver que as crianças repetiam palavras ou frases
que a professora dizia, e contava para o amigo perto dele.
Hora
de trabalhar
Depois
da leitura dos textos, a professora realiza algumas atividades relacionadas ao
livro lido. Em uma dessas atividades, a professora recortou bonecos de papel de
várias cores de diferentes, e os espalhou, pedindo para as crianças escolherem
o boneco que mais se relacionasse com ele, para relacionar a questão das
diferenças trabalhadas na história. O mais interessante nessa atividade foi
perceber que as crianças não escolhiam os bonecos conforme as cores da pele, e
sim conforme seus gostos e suas personalidades. Uma delas inclusive nos
explicou que escolheu o boneco vermelho porque “é a cor que para o carro”. A
cor mais escolhida foi a da cartolina preta
Um
pouco de Piaget
Apesar
de nosso principal amparo teórico ser Vygotsky, pudemos observar um exemplo que
nos remete a Piaget. Piaget nos diz que se mostrarmos a uma criança dois
recipientes de formatos diferentes, porém com a mesma quantidade de liquido
dentro, por conta do formato ele dirá que um ou outro contém mais liquido
dentro. Também nos conta que se desenharmos um elefante e uma formiga em um
papel, e pedirmos para uma criança não alfabetizada escrever o nome desses
animais, ele fará rabiscos pequenos para a formiga, e rabiscos grandes para o
elefante por conta da associação com o tamanho dos animais. Um exemplo como
esses pôde ser visto em nossa visita.
Jogávamos
um jogo da memória com as crianças, que tinha peças com partes do corpo humano,
e peças com o nome dessas partes do corpo que deveriam ser associadas. Vimos
durante esse jogo uma menina explicando para sua amiga que para identificar a
parte do corpo com os nomes ela deveria pensar que “palavra pequena é pra coisa
pequena”.
Outro
fato ocorrido com as crianças que pode ser associado a Piaget é a
intertextualidade que elas fazem associando a história nova à velha, ele irá
tentar solucionar a situação nova com base nas estruturas antigas (Rappaport,
2007). As crianças vão trazendo para a leitura atual fatos das leituras já
feitas, e já compreendidas, para tentar auxiliar na assimilação da história
nova.
Criando
fora da escola
Existe
um projeto na escola visitada chamado “Maleta da Leitura”. Essa maleta é
constituída por um cd de música, um DVD, uma revista, uma história e uma
história em quadrinhos. Cada semana ela fica com um aluno, que leva a maleta
para casa para que possam “ler” as histórias, construindo-as, ou pedindo para
que seus pais leiam, coloquem o cd para que possam ouvir.
Outro
momento de criação não foi observado na escola visitado, e sim na escola em que
uma das participantes trabalha. Os alunos, que tem em média quatro anos de
idade, estavam em seu horário de intervalo quando um dos alunos escolheu um
gibi para ler, sentou-se em um banquinho e começou a narrar a história assim:
“Era uma vez um Cebolinha que viu o Cascão”. Ao ser perguntado por que começou
a história com “era uma vez” ele disse que “é porque história é assim, tia”. Ou
seja, ela começou a criar a própria história, a partir da experiência que ele
já possui de que a maiorias das histórias (por conta dos contos de fadas serem
frequentes no universo infantil) se iniciam com “era uma vez”.
Outro
momento importante de criação dos alunos é contar a história que aprenderam na
escola para os pais. A professora incentiva, com a ajuda dos próprios pais, que
as crianças contem as histórias para eles, para que assim elas reconstruam o
que aprenderam.
“Biblioteca”
A
escola que visitamos também possui um sistema que se assemelha a uma biblioteca.
Toda semana um aluno escolhe um livro e leva esse livro para casa, para poder
ler com os pais.
Depois
da passar essa semana com o livro, os alunos devolvem o livro para a escola.
Considerações
Finais
De maneira geral, os alunos parecem
estar sendo bem mediados pela professora, no que diz respeito ao incentivo da imaginação
e da criatividade. A leitura diária dá aos alunos material para que eles tenham
com ou sobre o que imaginar, e eles parecem gostar dos livros. As atividades
relacionadas aos livros também incentivam que os alunos criem a partir das
histórias que eles leram.
O
livro é fundamental para o desenvolvimento criativo das crianças porque ele
permite que ela abuse do mundo da fantasia, típico do universo infantil (e por
vezes esquecido no mundo dos adultos), seja brincando, seja recriando as
histórias, seja fingindo ser uma das personagens da história, ou quando conta a
histórias para os pais.
Na
faixa etária em que estão os alunos que visitamos os livros, para eles, são
como brinquedos, e brinquedos são extremamente importantes. Através do
brinquedo e do livro é que a criança passa para o mundo imaginário as coisas
que ele enxerga no mundo real. Por esse motivo, a imaginação é fundamental para
o desenvolvimento lógico real das crianças, porque ali temos um lugar de
exercício desse real. Como nos diz Vygotsky “a
imaginação é um momento totalmente necessário, inseparável do pensamento
realista.”.
Por
fim, entendemos que a imaginação não só pode, como deve ser trabalhar em sala
de aula, pois ela, aliada à criatividade é a base de tudo o que temos e de tudo
o que somos.
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