sexta-feira, 29 de junho de 2012

Relatóro Final - Arte, Criatividade e Imaginação


Breve Introdução

"Toda criança é artista. O problema é como permanecer artista depois de crescer".
Picasso

Sexta- feira construtiva. Esse é o nome que foi escolhido para o nosso blog, mas que na prática não funciona apenas com as sextas-feiras. A cada nova aula, a cada novo autor aprendido, a cada novo tema abordado e discutido nós, enquanto pessoas e profissionais, íamos construindo e reconstruindo nossos pensamentos, e inclusive nossas posturas, para pensarmos tudo que as teorias nos proporcionaram, e para tentar pensar essas teorias na prática.
Jean Piaget foi o primeiro autor aprendido, nossa primeira surpresa. Com ele aprendemos alguns pontos teóricos importantes, entre eles que as crianças possuem um egocentrismo, que é natural delas, pois o egocentrismo só funciona se for inconsciente na criança. Ela espelha suas vontades e seus desejos para os outros, não entendo que às vezes a brincadeira que ela quer, ou o desenho que ela quer, e tantas outras atividades, não é as mesmas que seus alunos querem. Outro ponto visto é, por exemplo, a questão da afetividade na questão da obediência da criança. Piaget vai nos dizer que a criança ou respeitará alguém por medo, ou por amor.
O segundo autor estudado é Lev Vygotsky. Dentre vários pontos em sua teoria, gostaríamos de destacar que uma das principais diferenças em relação à teoria de Piaget, e uma das partes mais importantes de sua obra é a ideia de que o pensamento e linguagem caminham do social para o individual (enquanto Piaget acredita que caminha do individual para o social). As crianças aprendem, assimilam porque antes elas veem alguém fazendo, porque elas observaram até conseguirem imitar os gestos das pessoas. Ela brinca, ela imita e ela fala porque ela está tentando imitar alguém. E assim o movimento desse aprendizado é realmente do social para o individual. Vygotsky vai tocar também na importância da imaginação para a criança. Ele vai nos dizer que a imaginação é uma característica exclusivamente humana, sendo então para nós uma espécie de privilégio.
A imaginação para a criança é tão importante, porque é nesse mundo que ela vai reproduzir e começar a criar a partir do universo que ela vive, das pessoas ao seu redor, da cultura do seu país ou região, dos livros que ela já leu ou que leram pra ela, das aulas que teve, enfim, de toda sua vivência até aquele momento da brincadeira. Imaginar faz a criança dar um salto em seu desenvolvimento e permite que ela crie novas ideias a partir de tudo que ela está vivendo. Ao permitir que a criança crie estamos sim trabalhando em sua zona de desenvolvimento proximal (ZDP), pois alguém à ajuda a ter com o que imaginar, e a partir dai começar a criar soltar, a dar voos cada vez mais altos, ora com alguém a segurando como uma pipa, ora com suas próprias asas.
O último autor estudado foi Henri Wallon, e sobre ele o ponto que queremos destacar é a importância que ele dá para as emoções da criança. Ela, ao chegar a sua sala de aula, não deixa para o lado de fora da porta tudo que ela é, tudo que ela vive e principalmente o que ela sente, ela carrega consigo todas essas emoções, que vem à tona durante os exercícios, durante as brincadeiras com os amigos, durante o aprendizado, durante as novas experiências que ela está absorvendo.

Introdução – Atividade Prática

            Para tentar enxergar funcionando na prática todas as teorias aprendidas, realizamos uma atividade prática em dado momento do curso – uma atividade de observação. Nosso tema é “Arte, Criatividade e Imaginação”, e decidimos que olharíamos esse ponto através de uma das expressões artísticas que nos identificamos, mas que também julgamos ser fundamental durante o processo de desenvolvimento da criança: o livro. Fomos então observar como acontece o trabalho coma literatura infantil em sala de aula, como a professora utiliza os livros, se há atividades anteriores ou posteriores relacionadas a esse livro, se ela incentiva essa leitura, se as crianças gostam ou não gostam dos momentos de leituras e outras atividades relacionados à utilização do livro.
A visita foi feita em uma escola de educação infantil municipal da cidade de Campinas, e a turma visitada tinha alunos com média de idade de quatro anos. O principal autor que nos amparou teoricamente foi Vygotsky, por conta da importância que ele dá para a imaginação no desenvolvimento da criança.
Nós assistimos às atividades, e em alguns momentos participamos junto com eles das brincadeiras realizadas.
            Vamos então às nossas experiências.

Atividade Prática

Contando histórias

Na escola em que visitamos, as professoras leem livros para as crianças todos os dias. Na turma visitada, em especifico, o livro trabalhado no dia era “Tudo bem ser diferente”, que de uma forma inusitada trabalhava com as crianças a ideia das diferenças físicas e étnicas, por exemplo. Uma situação interessante que observamos, é que durante a leitura das histórias, as crianças, comumente, repetem frases ou palavras contadas pela professora para as outras crianças, como que para confirmar o que estavam ouvindo, para uma organização do pensamento, como sugere Piaget. Ele nos mostra em sua teoria que as crianças têm por hábito externar (?) seus pensamentos, para organizá-los bem (assim como nós, adultos, quando estamos no trânsito, por exemplo). 

Outro fato interessante observado durante a leitura, é que as crianças tentam criar uma espécie de intertexto com a história lida. Elas tentam relacionar as leituras anteriores, e por vezes até histórias novas, ao que está acontecendo na história lida pela professora. As crianças vão aos poucos criando uma relação entre as histórias lidas, uma espécie de ponte que liga uma a outra.
Um dos exemplos observados, é que na parte em que o livro tratava de nariz grande, as crianças disseram o número sete. Como não entendemos a associação feita, perguntamos para a professora, que nos explicou que existe um desenho chamado “Os Sete Monstrinhos”, e que um desses monstrinhos, que tem nariz grande, é o número 7.
Durante a leitura ainda, era possível ver que as crianças repetiam palavras ou frases que a professora dizia, e contava para o amigo perto dele.

Hora de trabalhar

Depois da leitura dos textos, a professora realiza algumas atividades relacionadas ao livro lido. Em uma dessas atividades, a professora recortou bonecos de papel de várias cores de diferentes, e os espalhou, pedindo para as crianças escolherem o boneco que mais se relacionasse com ele, para relacionar a questão das diferenças trabalhadas na história. O mais interessante nessa atividade foi perceber que as crianças não escolhiam os bonecos conforme as cores da pele, e sim conforme seus gostos e suas personalidades. Uma delas inclusive nos explicou que escolheu o boneco vermelho porque “é a cor que para o carro”. A cor mais escolhida foi a da cartolina preta

Um pouco de Piaget

Apesar de nosso principal amparo teórico ser Vygotsky, pudemos observar um exemplo que nos remete a Piaget. Piaget nos diz que se mostrarmos a uma criança dois recipientes de formatos diferentes, porém com a mesma quantidade de liquido dentro, por conta do formato ele dirá que um ou outro contém mais liquido dentro. Também nos conta que se desenharmos um elefante e uma formiga em um papel, e pedirmos para uma criança não alfabetizada escrever o nome desses animais, ele fará rabiscos pequenos para a formiga, e rabiscos grandes para o elefante por conta da associação com o tamanho dos animais. Um exemplo como esses pôde ser visto em nossa visita.
Jogávamos um jogo da memória com as crianças, que tinha peças com partes do corpo humano, e peças com o nome dessas partes do corpo que deveriam ser associadas. Vimos durante esse jogo uma menina explicando para sua amiga que para identificar a parte do corpo com os nomes ela deveria pensar que “palavra pequena é pra coisa pequena”.
Outro fato ocorrido com as crianças que pode ser associado a Piaget é a intertextualidade que elas fazem associando a história nova à velha, ele irá tentar solucionar a situação nova com base nas estruturas antigas (Rappaport, 2007). As crianças vão trazendo para a leitura atual fatos das leituras já feitas, e já compreendidas, para tentar auxiliar na assimilação da história nova.

Criando fora da escola

Existe um projeto na escola visitada chamado “Maleta da Leitura”. Essa maleta é constituída por um cd de música, um DVD, uma revista, uma história e uma história em quadrinhos. Cada semana ela fica com um aluno, que leva a maleta para casa para que possam “ler” as histórias, construindo-as, ou pedindo para que seus pais leiam, coloquem o cd para que possam ouvir.
Outro momento de criação não foi observado na escola visitado, e sim na escola em que uma das participantes trabalha. Os alunos, que tem em média quatro anos de idade, estavam em seu horário de intervalo quando um dos alunos escolheu um gibi para ler, sentou-se em um banquinho e começou a narrar a história assim: “Era uma vez um Cebolinha que viu o Cascão”. Ao ser perguntado por que começou a história com “era uma vez” ele disse que “é porque história é assim, tia”. Ou seja, ela começou a criar a própria história, a partir da experiência que ele já possui de que a maiorias das histórias (por conta dos contos de fadas serem frequentes no universo infantil) se iniciam com “era uma vez”.
Outro momento importante de criação dos alunos é contar a história que aprenderam na escola para os pais. A professora incentiva, com a ajuda dos próprios pais, que as crianças contem as histórias para eles, para que assim elas reconstruam o que aprenderam.

“Biblioteca”

A escola que visitamos também possui um sistema que se assemelha a uma biblioteca. Toda semana um aluno escolhe um livro e leva esse livro para casa, para poder ler com os pais.
Depois da passar essa semana com o livro, os alunos devolvem o livro para a escola.

Considerações Finais

            De maneira geral, os alunos parecem estar sendo bem mediados pela professora, no que diz respeito ao incentivo da imaginação e da criatividade. A leitura diária dá aos alunos material para que eles tenham com ou sobre o que imaginar, e eles parecem gostar dos livros. As atividades relacionadas aos livros também incentivam que os alunos criem a partir das histórias que eles leram.
O livro é fundamental para o desenvolvimento criativo das crianças porque ele permite que ela abuse do mundo da fantasia, típico do universo infantil (e por vezes esquecido no mundo dos adultos), seja brincando, seja recriando as histórias, seja fingindo ser uma das personagens da história, ou quando conta a histórias para os pais.
Na faixa etária em que estão os alunos que visitamos os livros, para eles, são como brinquedos, e brinquedos são extremamente importantes. Através do brinquedo e do livro é que a criança passa para o mundo imaginário as coisas que ele enxerga no mundo real. Por esse motivo, a imaginação é fundamental para o desenvolvimento lógico real das crianças, porque ali temos um lugar de exercício desse real. Como nos diz Vygotsky “a imaginação é um momento totalmente necessário, inseparável do pensamento realista.”.
Por fim, entendemos que a imaginação não só pode, como deve ser trabalhar em sala de aula, pois ela, aliada à criatividade é a base de tudo o que temos e de tudo o que somos.

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