quinta-feira, 14 de junho de 2012

Vygotsky e Wallon,
algumas diferenças e similaridades


por Michele Guides (119938)

                   Vygotsky e Wallon passaram por momentos conturbados, entre os horrores da guerra e dos males por ela causados, o que pode ter influenciado no interesse deles pelo desenvolvimento do ser humano. Ambos construíram suas teorias sobre o desenvolvimento infantil partindo da mesma concepção de ser humano e de realidade. Para eles o sujeito é transformado e transforma o seu meio e os outros, ou seja, se constrói na relação com o outro. A transformação do sujeito, sua interação social e com o meio é feita através de instrumentos e signos, ou seja, através de mediadores. A principal diferença entre os dois autores consiste no mediador essencial na relação entre os sujeitos e o meio: para Vygotsky, esse mediador é a linguagem e, para Wallon, a afetividade (ou emoção).

                   Para Vygotsky, o sujeito é biológico e agente ativo, uma potencialidade de desenvolvimento limitada/pautada pela cultura e pelo contexto social, intersubjetividades e atividades[ii].Pare ele o ser humano por meio da filogênese (faz parte de uma espécie), ontogênese (nasce, se desenvolve e morre) e microgênese (possuí aspectos individuais próprios). Wallon também dá importância ao biológico do sujeito – tanto ao corpo, como ao seu desenvolvimento (ou maturação) - e a sua relação com o meio em que vivem, levando em conta os aspectos culturais, sociais e familiares. Para ambos, a criança não é apenas fruto do seu contexto sociocultural, mas de múltiplos determinantes, que não podem ser separados, ou deixados de lado para seu desenvolvimento.

                   Segundo Vygotsky, o desenvolvimento humano abrange dois níveis: o nível de desenvolvimento real que compreende o que a criança pode desenvolver sozinha; e o nível de desenvolvimento potencial são as atividades que a criança não consegue realizar sozinha, mas que com ajuda ela consegue efetuar. A distância entre o que a criança já sabe e o que ela está por aprender fica o que Vygotsky denominou de Zona de Desenvolvimento Proximal, considerada a área de atuação dos educadores.

                   Diferentemente de Vygotsky, Wallon elaborou um sistema de estágios: impulsivo emocional (no primeiro ano de idade) é afetivo e a interação se dá através das emoções; o sensório motor (de 3 meses a 3 anos) onde a inteligência é prática na relação entre o objeto e o corpo e discursiva pela apropriação da linguagem através do meio em que vive; o personalismo (de 3 a 6 anos) processo de formação da personalidade, a construção da consciência de si a partir da interação social; o categorial (de 6 a 11 anos) forma-se a categoria mental e o poder de abstração é ampliado; e por ultimo (a partir dos 11 anos), a predominância funcional onde acontece o desenvolvimento da sexualidade e uma reestruturação da personalidade devido as alterações hormonais. Apesar das faixas etárias, estes estágios não possuem limites bem definidos, ou seja, não são rígidas. Em todos os estágios há a presença de quatro elementos básicos ou campos, que se comunicam o tempo todo: a afetividade (ou emoção), a cognição, o movimento e a pessoa completa.

                   Tanto para Wallon quanto para Vygotsky, a afetividade e a inteligência se constroem mutuamente, são dependentes. A emoção, para Wallon é a primeira linguagem da criança, seu primeiro meio de socialização. Para Vygotsky esse tipo de comunicação é o primórdio do pensamento, ou seja, é uma inteligência prática – uma reação instintiva – onde os pensamentos são não-verbais e a fala é pré-intelectual; e do cruzamento entre estes dois surge a função psicológica superior, onde o sujeito aprende que cada coisa tem nome, pode então classificar, abstrair, generalizar. Ou seja, mesmo a emoção sendo importante para os dois autores, Vygotsky infere que sem a apropriação da linguagem pelo sujeito não haverá inteligência lógica e/ou matemática, pois com a apropriação da linguagem há um crescimento, um salto qualitativo na aquisição de conhecimento e na cognição do indivíduo.

                   O pensamento verbal, a linguagem, os instrumentos e signos não são uma forma de comportamento inato e natural[iii], ou seja, não surgem do nada, são uma construção social e o sujeito se apropria dele. A criança imita o outro, como modelo ou referência, para desenvolver-se. Através da imitação se apropria, significa, representa o outro e se constrói. Para Vygotsky essa representação não se restringe a refletir a realidade, mas a interpreta. E, segundo Wallon, a representação é superior a imitação que é presa ao plano motor, enquanto a representação acontece no plano simbólico. Wallon, além da imitação, discorre sobre a negação do outro que estabelece limites entre o outro e o “eu”, diferenciação que norteia, ou constrói, a consciência do “eu” e do “outro”.

                   O papel do professor para Vygotsky seria o de intervir, ou mediar, entre o que o aluno sabe e o que virá a saber; e para Wallon seria o de observar e considerar suas demandas, para a construção do ‘eu’ do aluno, que é essencialmente dialética, isto é, continua em movimentos contínuos e contraditórios, que duram por toda a sua vida. Enfim, para ambos a importância do papel do professor está no relacionamento que tem com seus alunos, pois faz parte da construção de cada um deles.



[i] Trabalho feito com base nas anotações e discussões realizadas no curso de Psicologia e Educação no 1º semestre de 2012 ministrada pela Profª Heloisa de Matos na Universidade Estadual de Campinas.
[ii] SAWAI, Bader B.; Psicologia e desigualdade social: uma reflexão sobre liberdade e transformação social; Pontifica Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.
[iii] VYGOTSKY, Lev S.; As raízes genéticas do pensamento e da linguagem in: Pensamento e Linguagem; São Paulo: Martins Fontes, 1998.

4 comentários:

  1. Interessante publicação!! A afetividade, segundo Wallon e Vigotski a explicam, mostra sua relevância em diversos aspectos da vida do ser humano. Uma das importantes discussões é a relação entre afetividade e aprendizagem. Este foi o tema de uma pesquisa por mim desenvolvida, junto ao Prof. Dr. Sérgio Leite, da Faculdade de Educação da UNICAMP. Deixo aqui o link para o artigo publicado: http://periodicos.puc-campinas.edu.br/seer/index.php/reveducacao/article/view/2852/1954

    Caso interesse, mantenho também um blog sobre educação e tecnologias digitais: http://tecsedu.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  2. nossa muito obrigada pois agora vejo com claresa as diferensas entre eles

    ResponderExcluir
  3. Muitooo bem explicado e claro!!!
    Meus Parabéns!

    ResponderExcluir
  4. muito bom aprendi muito tirei minhas duvidas.

    ResponderExcluir